Independentemente da derrota por 2 a 1 e da atuação contra a Sérvia, na final do Mundial Sub-20, a principal questão é se, neste time e em outros de base, há jogadores com grande potencial de se tornarem excepcionais, destaques da seleção principal e das maiores equipes do mundo.
O Brasil continua produzindo, em série, para exportação, um grande número de bons, ruins e ótimos jogadores, mais que os outros países, mas desapareceram os especiais. Isso ocorre por dezenas de motivos, como a deficiência dos treinadores, desde as categorias de base, as promíscuas relações comerciais, a busca por enormes lucros e a pouca preocupação com qualidade técnica.
A Alemanha não tem um Neymar, mas tinha, na Copa de 2014, vários excepcionais jogadores (Neuer, Kroos, Schweinsteiger, Lahn e Müller), que, antes do Mundial, estavam na lista da Fifa dos 23 melhores do mundo. O mesmo ocorreu com a Espanha, campeã do mundo em 2010 e bicampeã da Europa, em 2008 e 2012.
Estamos também atrasados no jogo coletivo. Durante um longo tempo, os técnicos privilegiaram conceitos equivocados, medíocres, o jogo truncado, compartimentado e a falta de troca de passes, com apoio de muitos jornalistas esportivos, que só agora se tornam críticos.
Não houve surpresa na vitória da Colômbia. Sem o brilho de Neymar (teve uma péssima atuação), as equipes ficam no mesmo nível. Neste jogo, a Colômbia foi superior. Neymar precisa adquirir, na seleção, o equilíbrio entre tentar muitas jogadas individuais, pois isso é o que pode decidir as partidas pelo Brasil, e a sabedoria de esperar o momento certo para brilhar. Ele, aos poucos, tem conseguido isso no Barcelona.
Às vezes, o grande craque não tem nenhuma chance de fazer uma jogada magistral e decisiva. Mas precisa participar do jogo coletivo.
Neymar mereceu a suspensão de quatro jogos. A punição será educativa. Ele não pode dar tantos chiliques e achar que pode tudo. A faixa de capitão fez mal a ele. Ele não é o único. Muitos dos maiores jogadores da história também tiveram problemas com o fisco, atuaram mal várias partidas, mostraram grande descontrole emocional e foram arrogantes nas derrotas.
Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, dizia que a maior qualidade de Pelé era a imodéstia absoluta.
Na semifinal da Copa de 1970, Pelé deu uma cotovelada no uruguaio Fontes. Se fosse hoje, provavelmente, o árbitro o teria expulsado. Mesmo se o Brasil, com dez, vencesse, Pelé não jogaria a final, e se o Brasil não fosse campeão, o mundo, até hoje, falaria do descontrole emocional do Rei.
Hoje, existe a possibilidade de os jogadores se agigantarem, se superarem, para mostrar que o time não é só Neymar, ainda mais que é contra a Venezuela, e não contra a Alemanha. Podem se tornar os protagonistas, por não terem que esperar que Neymar resolva tudo. Estava muito chato o discurso dos atletas, tipo: "Perdemos nosso capitão, nosso melhor jogador". Só faltava chorar no microfone.
Assim como Neymar teve seu dia de jogador mediano, quem sabe, hoje, alguém tenha seu dia de craque?