Folha de S. Paulo


Decisões na Libertadores

Cruzeiro e Inter têm jogos decisivos e difíceis, hoje, pela Libertadores. As quatro equipes estão no mesmo nível, e todas podem ser campeãs. Nenhuma é especial. Nos jogos de ida, diferentemente do Inter, que ficou atrás, pressionado, e perdeu, o Cruzeiro armou um ótimo sistema defensivo, contra-atacou bem e ganhou.

O Cruzeiro perdeu vários de seus principais jogadores, mas não perdeu a força coletiva. Se não tivesse Marcelo Oliveira, um técnico sensato, equilibrado e com bons conhecimentos, mudaria também o sistema tático, a estratégia, por causa dos maus resultados, e, provavelmente, não teria vencido o São Paulo e o River Plate. Da mesma forma, se o Inter não tivesse Diego Aguirre, um técnico firme, que não se iludiu com algumas caras e equivocadas contratações feitas pelo clube -estão na reserva-, o time teria menos chance na Libertadores.

Está evidente que Luxemburgo não foi dispensado somente por causa dos maus resultados. Ele disse que foi porque discordava dos gestores do Flamengo e que conversou com alguns jogadores que poderiam ser contratados, com autorização do clube. Outro motivo seria seu altíssimo salário, fora da realidade do futebol brasileiro. Certamente, pesou a falta de credibilidade do treinador.

A insistência de Luxemburgo em exaltar a passagem do Flamengo da zona de rebaixamento para a intermediária, em 2014, como se fosse uma grande conquista, é ridícula.

O técnico aproveitou para se oferecer ao São Paulo, ao dizer que o elenco do clube é fantástico, o melhor do Brasil, pois sabe que isso agrada, seduz e ilude o presidente do São Paulo, como se ele fosse o técnico que faltava ao time.

Escrevi, na coluna anterior, que os treinadores mais vitoriosos de uma época, como Luxemburgo, Felipão e Muricy, se destacaram no período de grande queda do futebol brasileiro. Isso não tira seus méritos, nem quis dizer que "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Mas foi um tempo de caminhos equivocados dos treinadores, prejudicados por dezenas de muitos outros fatores, como a desorganização, a violência que se espalhou pela sociedade, dentro e fora dos estádios e pelos gramados, e a falta de talento individual, por causa da má formação e da saída dos melhores atletas.

Nada no mundo é linear e acontece sem sobressaltos e sem exceções. Tivemos também ótimas equipes nesse período. Assim como existem péssimos técnicos, atletas e equipes nos períodos de esplendor, há ótimos profissionais e grandes times nos piores momentos do futebol.

Pulo para o Brasileiro. Não há rixa no São Paulo, entre Luís Fabiano e Pato, mas os dois protestam contra a reserva. A única razão para manter Luís Fabiano no elenco seria se ele aceitasse a reserva e a decadência técnica. Assim, seria uma boa opção durante os jogos. A maioria dos jogadores que tiveram prestígio não aceita essa condição. O orgulho e a vaidade não permitem.

Xavi é exceção. Ele, um dos melhores armadores da história, símbolo do passe e do jogo coletivo, compreendeu o ocaso e aceitou a reserva, com naturalidade, sem rancores e confrontos, e ainda colaborou bastante com o Barcelona. É uma lição de consciência crítica e de lucidez.


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