Folha de S. Paulo


Aposto no imprevisível

Nas férias, assisti em um restaurante de Roma, em ótima posição, de frente para a televisão, sem barulho, aos jogos da semana passada da Liga dos Campeões da Europa. Quando Messi fez o espetacular gol, o garçom, que sabia que eu era brasileiro, mas que não me conhecia, disse: "Pelé é o primeiro, Maradona, o segundo, e Messi, o terceiro maior da história".

Argumentei, para provocá-lo e porque tenho dúvidas, que Messi seria o segundo, já que faz muito mais gols e é mais regular que Maradona. Ele respondeu: "Nunca. Quem viu Maradona no Napoli sabe disso". E completou: "Maradona é mais artista, mais fantasista e está acima das análises técnicas".

Perguntei a ele, com meu portunhol misturado com um grosseiro italiano, porque, diante de tanta paixão por Maradona, não o colocava à frente de Pelé, como faz a maioria dos argentinos. Ele disse: "Pelé é Pelé".

Além das ausências importantes de Alaba, Robben e Ribéry, Guardiola cometeu ontem, novamente, o mesmo erro do jogo anterior e das duas derrotas para o Real Madrid, nas semifinais do ano passado, de atuar com os zagueiros adiantados, com muitos espaços nas costas. Isso é moderno, eficiente, torna o time compacto e funciona muito bem contra quase todas as grandes equipes do mundo, menos contra o Barcelona e o Real Madrid, que possuem os melhores e mais velozes atacantes do mundo.

O Barcelona não é mais o time da troca curta de passes, esperando alguém se infiltrar para receber a bola dentro da área. Depois da formação do atual e poderoso trio ofensivo, o forte da equipe é a velocidade nos contra-ataques. São os craques, e não o técnico, que definem a estratégia e o estilo dos grandes times.

Apesar da desvantagem de um gol, o Real Madrid, hoje, contra a Juventus, tem um pouco mais de chance de fazer a final. Com a provável volta de Benzema, mil vezes melhor que o mexicano Chicharito, o ataque fica muito mais forte.

Cheguei de viagem a tempo de ver, no domingo, alguns jogos do Brasileirão. Apesar da eliminação do Flamengo na semifinal do Carioca e da derrota para os reservas do São Paulo, o bom técnico Luxemburgo não perde a empáfia de se achar mais sábio que a sabedoria.

Tentei ver, em Roma, pela TV, as partidas da Libertadores na semana passada, mas não consegui. Hoje, tudo é incerto, nos três jogos. Aposto no imprevisível e no acaso.

Os auxiliares de treinadores do São Paulo e do Santos estão fazendo sucesso. No Barcelona, o jovem técnico Luis Enrique está muito bem. Isso não significa que esses novos treinadores são excepcionais. Poderão se tornar. Significa que podem fazer tão bem ou até melhor que os mais famosos e que os técnicos badalados, do Brasil e da Europa, são importantes, porém, supervalorizados, nas vitórias e nas derrotas, como se tudo o que acontecesse em um jogo, ou mesmo em um campeonato fosse decorrente quase somente de suas condutas.

A grande diferença é que os treinadores brasileiros mais famosos ganham fortunas, incompatíveis com a realidade do futebol brasileiro e da economia do país.


Endereço da página: