Folha de S. Paulo


Surto de otimismo

Tive um surto de otimismo com a seleção. Como o time, com Felipão, ganhou a Copa das Confederações, os amistosos até o Mundial e, depois da Copa, com Dunga, venceu seis partidas seguidas, deduzo que o 7 a 1 foi um exagero e que, mesmo com tantas deficiências, individuais e coletivas, o Brasil pode formar um ótimo time, próximo ao das melhores seleções.

Em um país tão imenso, com tanta tradição, com milhares de crianças sonhando serem craques, que deveriam estar em boas escolas públicas, em horário integral, é muita incompetência e irresponsabilidade não ter 23 ótimos jogadores para formar uma boa equipe.

Outra razão para ficar otimista é a superação. Muitos jogadores que fracassaram em 2014 estarão sedentos, espero, por recuperar o seu prestígio e o do futebol brasileiro. Ocorreu algo parecido na Copa de 1970, após o desastre de 1966, que só não foi pior que o 7 a 1. Evidentemente, quanto maior o talento, mais fácil é a superação.

A realidade contraria meu otimismo. O Brasil não tem, do meio para frente, com exceção de Neymar, um único fora de série. Há vários excelentes goleiros, como Victor, Fábio, Cássio e os três convocados, mas nenhum está no nível dos vários espetaculares goleiros europeus. Danilo é um bom lateral direito, pretendido por grandes equipes, mas está longe dos grandes laterais direitos brasileiros de outras épocas, mesmo de Daniel Alves e Maicon, em seus melhores momentos. Na lateral esquerda e na zaga, estamos muito bem.

Existe um grande entusiasmo com Philippe Coutinho, mas não podemos esquecer que ele brilha no Liverpool, um clube grande, mas hoje um time médio. Tanto que foi eliminado nas oitavas de final da Liga Europa, segundo torneio do continente. Se jogasse no Chelsea, ele atuaria melhor que Oscar e Willian?

Os perigos do otimismo são distorcer a realidade, tornar-se excessivamente utilitarista e contentar-se apenas com a vitória. Não basta vencer, é preciso encantar. O futuro do futebol depende desse fascínio.

TIKI-TAKA

Como disseram os bons comentaristas da ESPN Brasil Leonardo Bertozzi e Mauro Cezar Pereira, a vitória do Barcelona sobre o Real Madrid foi a confirmação do fim do tiki-taka da época de Guardiola, o que já tinha acontecido há vários meses. O tiki-taka, comandado por Xavi, encantou e influenciou positivamente a seleção da Espanha, campeã do mundo e bicampeã da Europa, e todo o futebol mundial.

Hoje, a maioria das grandes equipes, incluindo o Barcelona e o Bayern, dirigido por Guardiola, associa o tiki-taka, a posse de bola, a marcação por pressão e a troca curta de passes com o jogo veloz, com poucos passes para chegar ao gol e com contra-ataques. Tudo em uma mesma partida.

As características de Neymar, Suárez e Messi foram determinantes para a mudança no Barcelona. O técnico Luis Enrique percebeu e incentivou a transformação. Não quis ser mais saudosista que a saudade. O tiki-taka continua presente em minha memória, como um dos momentos mais marcantes e belíssimos da história do futebol. O tiki-taka não morreu. Passou. Tudo passa.


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