Folha de S. Paulo


Mentalidade vencedora

O Brasil vive uma grande expectativa, curiosidade, para saber todos os nomes dos políticos presentes na lista da Operação Lava Jato. Quando ler esta coluna, provavelmente, a lista já terá sido divulgada. Tomara! Para quem acompanha o futebol, há também uma grande espera para conhecer, nos detalhes, a medida provisória do governo, o projeto de deputados sobre o longo refinanciamento da dívida dos clubes, com baixíssimos juros, e o que darão em troca para tanta mamata, ainda mais com o país em crise, além de outras mudanças no esporte.

Dizem que a medida provisória está próxima do que defende o Bom Senso F.C. e das necessidades de nosso futebol, enquanto o projeto dos deputados, dos amigos da CBF, é mais uma enganação.

Muitas coisas precisam mudar, como acabar com o horário de jogos às 22h, nas quartas-feiras. É bom para a TV Globo. Ela investe nos campeonatos, antecipa a receita dos clubes e, em troca, quer vantagens. Todas as outras emissoras fariam o mesmo. São empresas particulares, que visam o lucro. Os dirigentes, em vez de reclamarem da CBF, apenas uma intermediária, deveriam discutir com a TV Globo, que é quem manda no calendário.

Os clubes, por meio de uma liga independente e forte, e não de uma agência de regulação do governo, como falam que vai acontecer, é que deveriam comandar o futebol e chamar, para participar, as televisões e os parceiros comerciais.

Os interesses públicos precisam estar à frente. Como o transporte público é muito ruim, ainda mais a partir da meia-noite, aumentam os riscos de violência entre os torcedores.

Muitos dirigentes querem mudar o calendário, associando a fórmula de pontos corridos com jogos finais em mata-mata. Seria um retrocesso. Em todos os principais campeonatos nacionais do mundo, a fórmula é somente por pontos corridos.

Pulo de fora para dentro do campo. Estava animado com Dunga, pelos resultados, pelas atuações da seleção e por estar menos grosseiro. Mas fiquei desanimado, ao ver a entrevista do treinador à ESPN Brasil, quando disse que o Liverpool, time de Philippe Coutinho, convocado para a seleção, atua com duas linhas de quatro, no 4-4-2. Desde o ano passado, o Liverpool é um dos raros times europeus que joga, constantemente, com uma linha de três zagueiros. Saber o desenho tático de um time é básico. Até Marin sabe disso.

Philippe Coutinho joga no Liverpool, na intermediária do outro time, da meia-esquerda para o centro, de onde tem dado ótimos passes e finalizado muito bem. Ele não atua pelo lado nem marca o lateral, funções que Oscar faz na seleção brasileira e que não sei se Coutinho faria bem. No Liverpool, quem atua pelo lado é o ala, no esquema com três zagueiros. No sistema da seleção, Philippe Coutinho seria reserva de Neymar.

O dogmático Dunga disse ainda, pela milésima vez, quase uma obsessão, que, para um jogador ser convocado, precisa ter mentalidade vencedora. Como ele sabe quem tem, já que são jovens, com uma longa carreira pela frente? Futebol é também um jogo coletivo. Há dezenas de fatores envolvidos no resultado. Todos ganham e perdem.


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