Folha de S. Paulo


Não é obrigatório mudar

Um erro frequente dos treinadores, de todo o mundo, é se sentir pressionado para mudar o time, quando está perdendo, geralmente aos 15 minutos do segundo tempo, mesmo se a equipe estiver bem, criando chances de gol. O técnico muda, o time piora e perde a chance de vencer. Essas substituições tornaram-se um hábito, uma compulsão. O técnico também morre de medo de não trocar e ser criticado por omissão.

Foi o que fez Enderson Moreira, na quarta-feira. Após o mau primeiro tempo, quando foi sufocado pelo Cruzeiro, o Santos voltou bem e teve chances de empatar. Durante a segunda etapa, o técnico não resistiu à tentação de mudar e trocou os três jogadores mais adiantados pelo sempre apagado Leandro Damião e mais dois jovens, ainda despreparados para o momento. O time piorou e deixou de ameaçar o Cruzeiro.

Se, por dezenas de outros fatores, como um erro do árbitro, o técnico muda, quando não precisava, e o time vira o placar, será elogiado pelas brilhantes substituições que "mudaram" a história da partida. Depois do jogo, ao ser perguntado e elogiado pelo repórter, o treinador, para demonstrar modéstia, dirá que o mérito foi de todo o grupo.

O Flamengo melhorou muito com Luxemburgo. Com isso, voltou a badalação ao técnico, como se fosse algo extraordinário um treinador chegar e a equipe melhorar durante a competição. Já vi isso acontecer várias vezes com treinadores medíocres. Nunca achei que Luxemburgo estava ultrapassado nem que, em seus melhores momentos, fosse um supertécnico, um magistral estrategista, como tanto falam seus admiradores. Luxemburgo sempre foi um excelente treinador, que caiu, por inúmeros motivos, e que tenta recuperar o prestígio.

Se há dezenas de fatores envolvidos no resultado de um jogo, na conquista de um título, temos de ter muito cuidado com os exagerados elogios e com as duras críticas aos treinadores. Em longo prazo, fica menos difícil essa análise. Além disso, com frequência, um técnico razoável ganha um título importante e passa a dirigir grandes equipes, com ótimos jogadores, o que aumenta a chance de se manter no topo por um bom tempo.

Em entrevista no "Redação SporTV", Parreira, perguntado sobre porque o Brasil não forma um Kroos, esquivou-se, como sempre, ao dar razões ocasionais e, por corporativismo, não quis criticar os técnicos, principais responsáveis pela divisão que houve no meio-campo, entre os volantes que só marcam e os meias que só atacam. Com isso, desapareceram os excepcionais meio-campistas, como Kroos e outros, que atuam de uma área à outra.

Apenas recentemente, os treinadores brasileiros perceberam a importância desse tipo de jogador. Quem sabe em um futuro próximo teremos um craque no meio-campo entre os melhores do mundo?


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