Folha de S. Paulo


A história se repete

Os estudiosos da alma humana falam que, após uma catástrofe individual, familiar ou coletiva, é necessário um período de luto, de tristeza e de reflexão para que haja uma recuperação duradoura e estável. O tempo de luto é variável, desde que não seja prolongado, para não evoluir para uma crônica depressão.

O 7 a 1 foi tão catastrófico que deveria ter também um período de luto. Poderia não ter jogos da Seleção por uns seis meses, as partidas do Brasileirão terem um minuto de silêncio, e as pessoas se vestiriam de luto, nos congressos, para estudar a tragédia, não por masoquismo ou gozação, mas para lembrar da importância do fato e da necessidade de se fazer algo.

Acontece o inverso. Tentam, rapidamente, apagar o 7 a 1. Para isso, trouxeram Dunga, que já teve a mesma experiência, após o Mundial de 2006. Ele, como naquela época, chegou com a postura carrancuda e grosseira, com seus conceitos e estratégias. Já conseguiu quatro vitórias, com boas atuações, sendo uma contra a Argentina, como em 2006. É a hora de pegar a Alemanha, de ressaca, que perdeu da Polônia pela primeira vez na história e empatou com a Irlanda.

Dunga já mostrou o que deseja, muita disciplina tática, contra-ataques rápidos, ainda mais com Neymar, e laterais que marcam mais do que apoiam. Isso não é mais bonito, porém é mais eficiente, o que não significa que ele deva prescindir de um lateral tão criativo e habilidoso, como Marcelo. É preciso usá-lo no momento certo.

Se a Argentina tivesse feito um gol primeiro –teve inúmeras chances–, o contra-ataque mudaria de lado, e o Brasil teria de mudar sua postura. O resultado teria grandes chances de ser diferente, e os comentários seriam outros.

Os dogmáticos, extremamente rígidos, como Dunga, se perdem quando, de repente, enfrentam situações diferentes, inesperadas, pois só conhecem uma solução, uma verdade.

O Japão é o adversário ideal para o Brasil. Quando avança, perde a bola facilmente, nunca para a jogada e deixa um enorme vazio na defesa, além de errar todas as finalizações. Os jogadores brasileiros que entraram no segundo tempo tiveram enorme facilidade, pois os japoneses abandonaram a defesa, o que inviabiliza uma análise correta de suas atuações.

Evidentemente que o 7 a 1 foi um placar atípico, exagerado, e que a Alemanha não era o máximo dos máximos nem o Brasil, o péssimo dos péssimos. Mas o resultado deixou uma grande mensagem simbólica, um grito de horror, um pedido desesperado de ajuda, que não deveria ser atendido por soluções dunguistas imediatas nem por grosserias. Merecia um luto, uma longa reflexão e discussão.

O destempero de Dunga é tratado por muitos como algo engraçado, interessante, folclórico. Enquanto o Brasil vencer, tudo será permitido.


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