Folha de S. Paulo


Nação e nacionalismo

A violência, dentro e fora dos estádios e em todo o país, atingiu níveis insuportáveis. A população está com medo. É o caos.

As radicais discussões, na imprensa e na sociedade, sobre a violência urbana, os protestos nas ruas, os black blocks, a Copa no Brasil e outros assuntos estão muito ideológicas. A diversidade é fundamental, bem-vinda, desde que não desapareça o bom senso, o observador neutro, que enxerga e analisa os fatos com independência, sem pré-conceitos. Bom senso está se tornando no Brasil uma postura careta, sem graça, uma fraqueza.

Na Copa das Confederações, o medo da Fifa era que as manifestações entrassem nos estádios. Se ocorresse, a competição seria cancelada, e o Mundial, transferido.

O torcedor cantou o Hino Nacional com orgulho e vibrou com a seleção. Isso ajudou o time. Felipão usou a estratégia correta, para quem joga em casa, de pressionar desde o início, muitas vezes com faltas para parar a jogada, o que tem de ser criticado, pois só um time joga.

A marcação por pressão será repetida na Copa. Há os riscos de deixar muitos espaços na defesa, se o rival conseguir sair da marcação.

Outro risco é de o time sofrer um gol primeiro e não ter forças para virar o jogo no segundo tempo, já que há um grande desgaste físico nesta postura.

A maioria dos torcedores presentes na Copa das Confederações, que será quase a mesma do Mundial, é a favor dos protestos nas ruas, sem vandalismo, contra os enormes gastos do governo e contra os elefantes brancos. Mas eles separaram esta indignação do prazer e do orgulho de assistir a uma Copa nos estádios e de torcer pelo Brasil.

Algo parecido ocorreu na Copa do Mundo de 1970, quando muitos que torceriam contra a seleção, por causa da ditadura, vibraram com o time e com o título.

Na época, alguns criticaram os jogadores, por não terem se rebelado oficialmente contra a ditadura. Seria o mesmo que exigir dos atuais atletas, que são a favor das manifestações, sem violência, e contra a maneira como a CBF dirige o futebol, que fizessem um protesto oficial. Os atletas, do passado e do presente, não são super-heróis, santos nem guardiões da ética. São jovens, ambiciosos, humanos, responsáveis, que querem ganhar a Copa do Mundo e colocar os seus nomes na história.

Neste momento de confrontos ideológicos e de Copa do Mundo no Brasil, de aumento dos discursos e de propagandas patrióticas, confundem-se interesses pessoais, ufanismo e nacionalismo com o orgulho de pertencer à nação, de ser um cidadão e de torcer pela seleção. Estes sentimentos têm se perdido com o tempo, por causa da globalização, da corrupção, dos graves problemas sociais, da violência urbana e da constatação de que a seleção é mais da CBF que do Brasil.


Endereço da página: