Folha de S. Paulo


Procure a nova MPB

No último domingo (12), o programa "Superstar" apontou seu vencedor e encerrou mais uma temporada. Competição entre bandas novas, a atração da Globo é promovida como uma renovação na música brasileira.

Não existe justificativa para tal pretensão. Difícil crer na competência para essa tarefa de um programa em que os concorrentes recebem orientações do trio Thiaguinho, Sandy e Paulo Ricardo. Só mesmo no país em que o técnico da seleção é o Dunga.

Três dias depois, uma demonstração muito mais eficaz de orientação musical se deu em Juazeiro (BA). Foi pela manhã, durante o café em um hotel às margens do rio São Francisco. A cidade promove nesta semana um festival internacional de sanfoneiros. O restaurante estava tomado por gente que domina muito bem o instrumento.

Numa mesa, alguns conversavam sobre a técnica de tocá-lo. Ao lado, um garoto, pré-adolescente, ouvia tudo com muita atenção. Um sanfoneiro-mirim, que chegou a subir ao palco durante o festival para tocar com os maiores.

É tremendo clichê a expressão "brilho nos olhos", mas é a descrição mais adequada. O menino estava hipnotizado. Era uma aula, de verdade. Horas depois, conversar com os jovens sanfoneiros que participaram de oficinas do instrumento com o veterano e venerado mestre Gennaro foi revelador. Meninos humildes, do interior, sem recursos? Não. Garotos espertos, antenados. Um deles disse que tocar sanfona é difícil, então às vezes ele interrompe os estudos e descansa jogando PlayStation, "bem mais simples".

O "Superstar" e o Festival Internacional da Sanfona são duas ocorrências diferentes, mas inseridas na discussão de próximos passos da MPB.

Os rumos para o sucesso comercial estão cada vez mais atrofiados. Emplacar música na trilha da novela é sorte grande. Espalhar uma canção grudenta no YouTube também vale, mas a concorrência é forte. Fica mais fácil ter um padrinho de peso no negócio da música. Uma Paula Lavigne, por exemplo. Neste caso, provavelmente se ganha também a bênção de Caetano Veloso, ainda um certificado imbatível para se obter sucesso e respeitabilidade.

Ganhar visibilidade com shows é um trabalho de formiguinha, e está sujeito a algumas distorções do mercado.

Há dez anos, o circuito de shows do Sesc em São Paulo era uma vitrine de gente nova. Hoje, os palcos de suas unidades recebem Milton Nascimento, Titãs, Martinho da Vila e, surpresa maior desta temporada, até Caetano Veloso. Falta palco para os novos.

Para quem gosta de música, o melhor é esquecer as redes já estabelecidas de divulgação e encontrar por aí, sem a chancela de emissoras de TV ou gravadoras, demonstrações de renovação da MPB.

Testemunhei uma delas no interior da Bahia. Fique atento.


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