Folha de S. Paulo


Poder destrutivo do empreendedorismo

Quando se fala em empreendedorismo, sempre se ressaltam os benefícios que essa atividade traz, como a criação de empregos, o aumento de renda, a melhoria de qualidade de vida, entre outras. No entanto, o empreendedorismo também tem seu lado B.

O economista americano William Baumol foi um dos primeiros a analisar essa vertente. Quando mal gerenciada, a atividade pode ter um caráter muito mais destrutivo do que produtivo.

Um exemplo disso é o turismo, que pode gerar um aumento dos negócios ligados a prostituição, drogas e jogos, causando sérios problemas sociais. Poluição e danos ambientais também são outros subprodutos de estratégias turísticas mal formuladas.

Os grandes traficantes de drogas possuem todas as características básicas de um empreendedor: eles vislumbram oportunidades, estão orientados ao crescimento, inovam e correm riscos.

Quem não se lembra dos empreendedores dos anos 1980 e 1990, que ganhavam muito dinheiro alugando telefones, aproveitando da ineficiência das nossas companhias telefônicas da época? Ou então da lei de reserva de mercado da informática, que tinha por objetivo proteger a indústria nacional de computadores?

O resultado foi que, durante anos, os brasileiros utilizaram equipamentos de péssima qualidade. Embora não tenham um caráter destrutivo, como na questão do turismo sexual ou do tráfico de drogas, tais exemplos se enquadram no empreendedorismo não produtivo, pois o benefício que acabam causando à sociedade é muito limitado.

A qualidade do empreendedorismo de determinado país irá depender do quanto a sociedade reconhece e recompensa determinadas iniciativas empreendedoras.

Por isso, é importante criar um ambiente institucional favorável à prática, com pouca burocracia, mais crédito, impostos mais proporcionais, sistema tributário menos complexo, enfim, "regras do jogo" que irão determinar um tipo de empreendedorismo mais adequado ao país.


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