Folha de S. Paulo


Fúria corintiana

OS CORINTIANOS estão felizes porque seu estádio sediará a abertura da Copa-2014, mas bravos com a Folha, que insiste em chamar o lugar de "Itaquerão".

Foram 113 e-mails, 80% idênticos, exigindo que o jornal e o site abram mão desse apelido e usem "Arena Corinthians" ou "Arena Itaquera", enquanto o nome definitivo não é escolhido.

Trata-se de uma corrente que começou no blog de um torcedor, passou para o site "Meu Timão" e ganhou força nas redes sociais. "Além de ser pejorativo, é prejudicial. O Corinthians pretende vender o nome do estádio para alguma empresa e fica difícil se acharem que ele será conhecido por um apelido", diz o autor da campanha, o técnico em eletrônica William Sena, 27, ex-morador de Itaquera, hoje na zona sul.

A direção do clube concorda com esse diagnóstico. Na quinta-feira passada, o presidente do Corinthians, Andres Sanchez, mandou um "cala a boca, Galvão" ao vivo. Ao lhe perguntar se o estádio, "na voz do povo", vai se chamar "Itaquerão" ou "Fielzão", o locutor ouviu: "Se você fizer o cheque de R$ 400 milhões, chamo de Arena Galvão Bueno".

A quantia é o que a diretoria alvinegra sonha arrecadar com a venda do "naming rights" -o direito de batizar o lugar com o nome de uma empresa- e que ajudaria a cobrir o custo de R$ 1 bilhão da obra.

A fúria corintiana cresceu desde que a Folha.com criou uma enquete engraçadinha propondo que o internauta escolhesse o melhor nome e incluiu entre as alternativas "Fielzão", "Isentão" e "Lulão". Mais de 12 mil pessoas já votaram. Um torcedor retrucou: "Que tal chamar a Folha de 'Folhão', 'Especulação', 'Jornalzão' ou 'Desfolhada'"?

"Itaquerão" não é exclusividade da Folha, praticamente toda a imprensa usa o apelido, mas a corrente foi direcionada para cá, porque "a repercussão de vocês é gigante", na definição do psicólogo corintiano Diego Morgado Jorge, 31.

A editoria de Esporte argumenta que o apelido não é ofensivo e segue a tradição de chamar as arenas pelos locais onde estão (Morumbi, Parque Antarctica, Maracanã).

O publicitário Washington Olivetto, 60, um dos autores do livro "Corinthians - É Preto no Branco", não concorda com seus colegas de torcida. "Não vejo nada de pejorativo em 'Itaquerão', é até uma manifestação de preconceito de quem acusa. Mas só saberemos como o lugar será chamado quando a obra estiver pronta. Nomes de estádio surgem do próprio povo", diz.

Não é agradável descontentar a Fiel, que forma a maior torcida da cidade -33% dos paulistanos, segundo pesquisa Datafolha de agosto-, mas o jornal está certo.
"Itaquerão" não é ofensivo e o risco de vir a atrapalhar a venda de "naming rights" não pode ser um problema da imprensa. É melhor esses torcedores buscarem outra bandeira.

RESPEITO AOS MORTOS
As fotos do cadáver de Muammar Gaddafi, na home da Folha.com, provocaram mal-estar em vários leitores. "As imagens deveriam estar dentro da reportagem e com um alerta sobre o conteúdo", escreveu, de Barcelona, o doutorando em neurociência André Luvizotto, 30. Entendo o desconforto, mas a fotografia era notícia nesse caso, já que ainda estão obscuras as circunstâncias em que o ditador foi morto.

VÁ PARA A INTERNET
A Folha anunciou na terça-feira que a maior parte dos indicadores econômicos deixa de ser publicada em Mercado e estará disponível apenas na versão on-line. O analista contábil Ádiner Monteiro, 31, ficou em maus lençóis, porque usa os dados no trabalho: "É muito grave quando uma mudança atrapalha assim o leitor". Ele não foi o único a reclamar. O papel é limitado e a tendência é migrar roteiros e tabelas para o espaço infinito da internet. O desafio é escolher o momento correto e não fazer com que o jornal pareça dispensável aos que ainda lhe são fiéis.

NOTÍCIA NÃO RECICLADA
Foi um gol da Folha a série de matérias sobre importação clandestina de lixo hospitalar. A reportagem não se contentou em registrar a apreensão de contêineres pela Receita Federal. Embrenhou-se pelo interior do Nordeste e descobriu onde vão parar os restos de hospitais americanos.


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