Folha de S. Paulo


O alto preço de ser rei da selva e como cães têm mais neurônios do que gatos

Gabriela Di Bella/Folhapres
Uma leoa tem menos neurônios corticais do que um golden retriever
Uma leoa tem menos neurônios corticais do que um golden retriever

Minha praia é diversidade biológica, em particular do ponto de vista do sistema nervoso, e acabamos de publicar um novo estudo mostrando de quantos neurônios são feitos cérebros, desta vez de espécies de carnívoros.

A Universidade Vanderbilt, que tem um escritório de comunicação dedicado a promover seus pesquisadores, fez um vídeo como parte do press release - e a mídia adorou, sobretudo a parte sobre cães terem mais neurônios do que gatos.

O assunto é convidativo, eu bem sei, e a pauta rapidamente viralizou a ponto de ser comentada no programa humorístico Saturday Night Live.

Como neurônios são as unidades de processamento de informação do cérebro, quanto mais neurônios, maior deve ser a capacidade cognitiva de um cérebro, sobretudo no córtex cerebral. Esta é a parte do cérebro que, por receber uma cópia de todos os sinais em trânsito pelas outras estruturas e poder combiná-los, torna animais capazes de muito mais do que detectar estímulos e responder a eles.

É o córtex cerebral que permite detectar padrões, tomar decisões moduladas por experiências passadas, e planejar estratégias para alcançar objetivos –tudo aquilo que torna o comportamento complexo e flexível.

Portanto, quanto mais neurônios tem o córtex cerebral de uma espécie, mais cognitivamente capaz ela deve ser.

Enquanto não sabemos como comparar capacidade cognitiva entre espécies, temos a expectativa pautada no número de neurônios corticais.

E cães têm cerca de o dobro de neurônios no córtex cerebral do que gatos. Quem ama cachorros vibrou, quem ama gatos...bom, até que se comportou bastante bem; foram só dois telefonemas emburrados até agora.

Não deu o mesmo ibope, é pena, a parte mais bacana do estudo.

Nossa expectativa inicial era que leões talvez tivessem mais neurônios corticais do que suas presas, animais igualmente grandes como antílopes, por causa de pressão seletiva a favor de maior capacidade cognitiva para caçar (supostamente mais difícil do que apenas correr, nós imaginamos).

Mas não: o cérebro de uma leoa tinha menos neurônios corticais do que o cérebro de um golden retriever de quase metade do tamanho. Pior ainda: o cérebro do urso pardo, de quase dez vezes o tamanho do cérebro do gato, tem apenas tantos neurônios quanto este no córtex cerebral.

Minha suspeita é que ser um predador enorme não é lá tão fácil quanto se supunha. Correr atrás da caça é tão custoso em termos de energia que esses animais dispensam perseguir bichinhos pequeninos, e se viram com os neurônios corticais que conseguem sustentar. Ser grande custa caro...


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