Folha de S. Paulo


Pânico

Eu estava quietinha no avião, adormecida, quando fui acordada por uma tensão súbita e intensa na garganta, pressão no peito, falta de ar, o cérebro berrando o alerta de que algo estava drasticamente errado e que uma catástrofe fisiológica era iminente. Minha suspeita foi confirmada pelo neurologista: era o começo de um ataque de pânico.

Nem todo pânico é um ataque do cérebro ou sinal de um distúrbio, claro. Assim como a tristeza tem seu lado bom, quando é adequada a um contexto negativo, e mesmo a felicidade só é saudável quando corresponde a uma realidade positiva (caso contrário ela é sinal de um distúrbio chamado mania), o pânico só é um transtorno quando ele ocorre fora de hora e contexto. Se a vida está ameaçada por um incêndio ou um ataque terrorista, o medo intenso e descontrolado do pânico é mais do que justificado (embora conseguir controlá-lo tenha suas vantagens).

Às vezes, contudo, o cérebro dispara todos os alarmes sem que haja risco real à integridade do corpo. Ao menos uma das fontes do alarme falso é conhecida: a ativação extrema e fora de hora de neurônios no tronco encefálico que monitoram o nível de gás carbônico no sangue.

Normalmente, esses neurônios acionam automaticamente a próxima inspiração (e assim tornam impossível "esquecermos" de respirar) e, quando isso não basta, acionam o locus coeruleus, o que despeja noradrenalina cérebro afora e nos acorda (caso você esteja prestes a se sufocar no travesseiro) e deixa alertas o suficiente para buscar mais ar (caso você esteja em um local fechado).

No ataque de pânico, esses neurônios são acionados fora de hora e sem motivo aparente (o que, aliás, separa o pânico da fobia, esta uma crise de ansiedade provocada por um mesmo estímulo, como aranhas, altura ou aglomerações) –mas o sinal é o mesmo: o corpo está ficando intoxicado por gás carbônico. A sensação de morte iminente, portanto, é perfeitamente real e convincente.

O jeito? Esperar até o ataque passar (não se sabe ainda se por atividade autocontida dos neurônios que dão o alarme ou por causa da evidência de que você, afinal, não morreu); apelar para ansiolíticos de ação rápida (santos remédios!); ou tentar truques cognitivos, como tentar se convencer de que está tudo bem.

Foi, por sorte, meu caso, pois não tinha remédios na bolsa. O avião estava perfeitamente estável, e os outros passageiros, também adormecidos. Saber que ataques de pânicos existem e como eles são ajudou meu cérebro a reconhecer a situação, respirar fundo e devagar e se acalmar sozinho.


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