Folha de S. Paulo


Um em cada dez tutores vê animal como fonte de despesas, diz pesquisa

Rodrigo Fortes

Era só uma pausa para o café. Mas, com frequência, quando descobrem que sou médica-veterinária, as histórias começam: "Tenho um cachorro" ou "O meu gato, você não acredita...". Naquele dia, não parecia diferente. Ela tinha dois cães. O maltês a família comprou. O schnauzer "veio assim, sem querer".

Como? Não entendi. "Uma amiga ia viajar por 20 dias e não tinha com quem deixá-lo. Eu disse que ele poderia ficar lá em casa. Mas, quando ela voltou, simplesmente me falou que não o queria mais. Isso faz dois anos."

Entendi menos ainda. Não vou nem entrar no mérito de a minha interlocutora chamar a fulana de amiga –fiquemos só na relação homem-animal. Por que ela não o queria mais, perguntei. "Ele era filhote, destruía tudo. O nome dele já era Prejuízo."

Apesar de vendidos em pet shops e tratados como propriedade pela Constituição, cães e gatos não são produtos descartáveis. Precisam de comida, banho, companhia, brincadeiras, vacinas, médico e carinho, sem falar de demandas específicas em cada fase da vida (sim, filhotes trocam dentes e destroem coisas!). Ou seja: exigem tempo e dinheiro.

Cá do meu ponto de vista, o que eles nos dão em troca não tem preço. E felizmente somos maioria. Uma pesquisa do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) indica que, para 61% dos entrevistados, os sentimentos despertados pelo animal de estimação são amor e alegria, seguidos de companheirismo (59%) e amizade (52%). Mas há um universo de 10% de pessoas que veem o próprio pet só como fonte de despesas ou problemas. São animais em risco iminente de abandono.

Não há dúvida, ninguém é obrigado a gostar de bichos ou a tê-los. Mas, se você está pensando em comprar ou adotar um animal de estimação, melhor se informar antes. Porque, depois, você passa a ser responsável pela vida e o bem-estar dele. E abandono é crime. Está na lei.


Endereço da página: