Folha de S. Paulo


Orelhas e bochechas podem revelar se o seu gato está sentindo dor

Rodrigo Fortes
Ilustração coluna Sílvia Corrêa 06.jun.2017
Ilustração coluna Sílvia Corrêa 06.jun.2017

Dói? Quem nunca foi ao médico e ouviu essa pergunta? O que é simples para quem atende adultos comuns é um dos maiores desafios impostos a pediatras, médicos-veterinários e profissionais que trabalham com pacientes com distúrbios cognitivos: como avaliar a dor de alguém incapaz de descrever o que sente?

Na busca por respostas, a medicina tem desenvolvido ferramentas que tentam estimar a presença e a intensidade da dor a partir da observação dos movimentos, gestos e postura dos doentes.

Em neonatos, por exemplo, inúmeros estudos têm relacionado determinadas expressões faciais à presença ou à ausência de dor. A face também tem sido o principal alvo de pesquisas na medicina veterinária.

Em 1872, Charles Darwin já afirmava que seres não humanos eram capazes de demonstrar emoções, incluindo dor, pelas expressões faciais.

Mas só em 2010 surgiram os primeiros estudos avaliando as alterações faciais observadas em ratos submetidos a estímulos dolorosos. Em 2012, foi a vez dos coelhos. Em 2014, dos cavalos. E, mais recentemente, dos gatos.

Pesquisadores da Universidade de Glasgow, na Escócia, fotografaram 59 gatos saudáveis e 28 que haviam sofrido algum acidente ou estavam em pós-operatório.

As imagens foram analisadas em computadores, que fizeram dezenas de medidas das várias estruturas faciais dos bichanos.

A comparação mostrou que são estatisticamente significantes as diferenças observadas entre os dois grupos para a distância entre as pontas das orelhas e para a altura das bochechas (na região de onde saem os bigodes). Ou seja: gatos com dor afastam mais as orelhas e apresentam bochechas mais achatadas.

É claro que ninguém está sugerindo que você fique em casa medindo a face do seu felino para saber se ele está com dor.

Mas, sem dúvida, aliadas a estudos sobre as posturas corporais dos gatos, análises como essa são ferramentas fundamentais para os médicos melhorarem a qualidade de vida de pacientes habituados a esconder o que sentem.


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