Folha de S. Paulo


República dos gatos

Ilustração Rodrigo Fortes
Coluna Bichos_ilustra Rodrigo Fortes

Não conheço muitas pessoas indiferentes aos gatos. Quem não gosta, NÃO gosta. Quem gosta, ADORA. E dificilmente tem apenas um.

O professor Archivaldo Reche, uma das maiores autoridades do país em medicina felina, decidiu tirar a limpo essa sensação de que somos um país de gateiros. Fez o seguinte: a cada cliente que chegava com um gato ao consultório, ele indagava quantos outros havia em casa. A pergunta foi direcionada a 585 pessoas. Delas, 85% tinham dois ou mais felinos em casa. E 50% tinham cinco ou mais gatos!

Sim, somos um país de casas multicat! E, quando se somam os gatos, multiplicam-se os desafios.

É só perceber o contraste. Na natureza, com oferta alimentar, áreas verdes e esconderijos, eles se organizam em matriarcados, dos quais os machos saem, quando têm de seis meses a um ano, para tentar formar grupos. Há tolerância com filhotes, mas dificilmente são aceitos novos indivíduos adultos.

Dentro de nossas casas, a situação é exatamente oposta. Sem acesso à rua, com pouco espaço e pouca diversão, eles são simplesmente misturados, sem laços de parentesco e sem ambientação. Desculpe: por que mesmo a gente acha que eles devem acreditar que são todos irmãos?

Brigas entre os gatos são o principal problema apontado pelo responsável por uma em cada três casas multicat. É uma queixa mais comum do que as de micção em local inapropriado.

Se você está nesse grupo, é hora de dar um basta. E o primeiro passo é fazer um mapa das relações afetivas que se estabeleceram entre os seus animais.

Quem é o déspota, que só se relaciona agressivamente com os demais? Quem são os párias, nome dado pelos hindus aos que estão fora do sistema e acabam agredidos por todos? Quem são os facilitadores sociais, que circulam entre as facções?

Com o mapa em mãos, você pode pensar em enriquecimento ambiental. A gente conversa sobre isso na semana que vem.


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