Folha de S. Paulo


Tarja preta

Basta uma rápida busca na internet, e os vídeos pipocam. Tem o do cão que pula como que caçando a própria sombra, o do gato que passa o dia a dedilhar a persiana... Seriam cômicos, não fossem trágicos.

Muitos dos mais engraçados vídeos envolvendo animais escondem, de fato, problemas bem conhecidos do homem: doenças mentais. O assunto é tema de uma palestra no TED da bióloga Laurel Braitman.

Ilustração Elcerdo
Matéria Bichos

Ela conta que se encantou pelo tema atrás de respostas para melhorar a qualidade de vida do próprio cão, Oliver. "Nós o adotamos e, aos seis meses, descobrimos que ele sofria de uma angústia de separação e não podíamos deixá-lo sozinho. Uma vez, pulou do terceiro andar de nosso apartamento. Ele caçava moscas que não existiam, tinha alucinações. Foi diagnosticado com desordem canina compulsiva", diz Braitman.

Medo e ansiedade estão na raiz da maior parte dos distúrbios mentais que afetam os animais, a exemplo do que acontece com humanos. Originalmente úteis como mecanismo de proteção, eles se tornam doentios quando acionados desnecessariamente.

A pesquisadora se dedicou ao assunto por quase uma década e reuniu suas conclusões no livro "Animal Madness" (Loucura Animal). Um bom exemplo é o da gata Ping, que pertencia a um homem idoso que morreu subitamente enquanto limpava a casa. O corpo foi achado uma semana depois. Durante todo esse período o aspirador de pó ficara ligado. Resultado: Ping passou a apresentar manifestações clínicas compatíveis com o estresse pós-traumático. Mas a nova família resolveu tratá-la e, três anos depois, Ping não apresenta nenhuma alteração de comportamento. A receita? Atenção e paciência.

Segundo a pesquisadora, muito antes dos antidepressivos (que ela admite serem necessários em vários casos), o animal doente deve passar por alterações na rotina, com o objetivo de melhorar sua qualidade de vida. É uma lição e tanto para nossa sociedade cada vez mais tarja preta.


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