Folha de S. Paulo


Tráfico de animais bate recorde

Estamos perto de uma marca vergonhosa: só nos cinco primeiros meses do ano, a Polícia Rodoviária Federal apreendeu 12.176 animais silvestres nas estradas brasileiras. São, em média, 81 pássaros localizados a cada dia em canos de PVC, além de répteis em garrafas e de mamíferos em malas abafadas.

Nesse ritmo, chegaremos a 30 mil em 2015, muito acima dos 17.169 bichos resgatados em 2009, maior índice dos últimos dez anos.

Mas os números são só a ponta do iceberg. O tráfico de animais é a terceira atividade ilegal mais rentável do mundo -só perde para os de armas e de drogas, segundo a ONU.

Ilustração Tiago Elcerdo

No Brasil, cálculos da organização não governamental WWF (World Wide Fund for Nature) indicam que rende US$ 1 bilhão (R$ 3,5 bilhões) ao ano, fazendo 12 milhões de vítimas. Um universo enorme, a anos-luz da capacidade de fiscalização.

A viagem é longa. Arrancados de nossas matas, esses animais enfrentam milhares de quilômetros sem água nem comida. Muitos são sedados para que não façam barulho. E, para cada um que chega vivo ao destino, nove morrem no caminho.

E qual é o destino? Eis o ponto! Feiras clandestinas, pet shops irregulars e sites de venda pela internet só existem porque há quem compre.

Há muitas brechas na lei que deputados federais da CPI dos maus-tratos prometem rever. A principal é a pena irrisória. O artigo 29 da Lei de Crimes Ambientais prevê prisão de até um ano para quem vende ou mantém em casa um exemplar de espécie nativa. Ninguém vai para a cadeia: ainda que condenado, o sujeito paga com trabalho comunitário, cesta básica, participação em palestra.

Ótimo que mude a legislação, mas o que tem mesmo de variar é a forma como nos relacionamos com o mundo. Por que raios você quer um tucano ou um sagui na sala? É essa a questão a que devemos responder.

Como em todo negócio, a lei da oferta e da procura é que dita as regras do jogo. Se você compra animais traficados, é você o grande criminoso por trás dessa máfia.


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