Conheci Gus em 2010. Ele nadava ininterruptamente em círculo, ganhando impulso ao forçar sua enorme pata, ora contra as pedras artificiais, ora contra os vidros de seu recinto no Central Park. A cada manobra, arrancava gritos dos turistas que se acotovelavam para vê-lo. Mas o que parecia uma atlética demonstração de energia e saúde do urso polar era, sabia-se há anos, uma manifestação de tédio e depressão.
Em 1994, Gus havia virado notícia exatamente por seu nado repetitivo e estereotipado. Na ocasião, a administração do Central Park contratou um especialista em comportamento animal, que tentou tornar o ambiente mais atrativo para Gus, introduzindo peças nas quais ele pudesse mexer. O resultado nunca foi 100%.
Há dois anos, com um tumor inoperável na tireoide, Gus passou a comer menos e a ter dificuldade de deglutição. Acabou eutanasiado em agosto de 2013, aos 27 anos.
Lembrei de Gus quando li sobre a polêmica em torno de Aurora e Peregrino, os ursos polares que desde abril estão no Aquário de São Paulo.
| Ilustração Tiago Elcerdo | ||
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A ONG Aliança Internacional do Animal tem feito protestos semanais, pedindo que eles voltem para a Rússia, sob a alegação de que as instalações eram melhores no zoológico de lá. O aquário nega, argumentando que os animais têm espaço acima da média e claraboias retráteis.
A questão, no entanto, vai muito além. Nenhum cativeiro reproduzirá as condições de vida livre, com todos os seus desafios. Mas, para muitos desses animais os zoológicos são a única opção de sobrevivência, ou porque eles nasceram em cativeiro, ou porque as cidades avançaram sobre seu habitat.
Zoológicos, portanto, têm um papel. E fazê- los melhores exige muito mais do que espaço e claraboias. Animais precisam de entretenimento e ocupação.
Que tal encerrar o bate-boca e cuidar de fato dos bichos? O Aquário de São Paulo poderia convidar os ativistas a ajudar, produzindo, por exemplo, enormes pedras de gelo. E a ONG poderia trocar as horas de protesto por horas de atividade com os animais. Os ursos agradecem.