Folha de S. Paulo


Você é um ônibus de pulgas

Nick, um simpático vira-lata, não parava de se coçar.

- Dona Severina, a senhora tem colocado o remédio contra pulgas?, pergunto.

- É, a outra veterinária manda colocar..., responde a dona de Nick.

- E a senhora coloca?, insisto.

- Ele não tem pulga..., ela rebate.

- Dona Severina, por favor, a senhora aplica o remédio?

- Mas, para quê?, ela questiona, com um sorriso tímido.

Coloco Nick na mesa de exame e, sem muita surpresa, encontro o pelame cheio de fezes de pulgas.

No mês passado trabalhei em um posto no hospital pelo qual os pacientes passam em busca de uma vaga neste ou naquele serviço.

É uma triagem.

Como há certo desequilíbrio entre oferta e demanda, muitos chegam à fila de madrugadinha. E esse tinha sido o caso de dona Severina.

Ela havia saído de casa antes das 5h porque já não aguentava ver Nick se coçando. Madrugou, passou frio, deixou toda a lida para trás por causa.... das pulgas! Mas não foi fácil convencê-la disso. E ela não era a única. Todos os dias havia três ou quatro casos como o de Nick.

Para muitos proprietários, não há dúvida: se eles não viram pulga e o animal não sai à rua, ele não tem como ter pulgas, certo?! Errado.

As pulgas estão em toda parte. No saco de batatas trazido da feira, na barra da calça que chegamos da rua, no cinema, no quintal do vizinho, no cachorro da sacada de cima. Para chegar até nossos cães e gatos, saltam, pegam carona, contam com uma forcinha do vento.

Mas você as veria em seu cão, certo?! Errado. A pulga adulta se alimenta no animal, mas vive mesmo no ambiente, naquelas falhas do rejunte, nas frestas do piso de taco, na casinha de madeira, onde põe dezenas de ovos todos os dias.

Evitá-las, portanto, exige a aplicação mensal de preventivos e, muitas vezes, dedetização da casa. Acabou o prazo, acabou o efeito. E as pulgas seguem chegando, todos os dias, na barra de suas calças.


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