Folha de S. Paulo


Fiéis por necessidade

Canô e Caló formaram uma família. Minhas calopsitas têm, agora, um casal de filhos. E, conforme os filhotes crescem, alimentam minhas dúvidas: será que Canô e Caló se manterão fiéis um ao outro ou presenciarei um troca-troca de casais, com doses de incesto, bem no meio do meu quintal?

Atrás de respostas, descobri que a monogamia é algo comum entre as aves (90% das espécies têm apenas um parceiro) e rara entre os mamíferos (observada em 3% a 9% deles).

O que até hoje não se sabe ao certo é por que alguns machos apostam na fidelidade se, em tese, teriam a chance de espalhar mais amplamente seu material genético se
acasalassem com diversas fêmeas.

Os estudos mais recentes sobre o assunto trazem explicações diferentes e nada românticas para esse fenômeno. Um grupo examinou a evolução de 2.545 espécies de mamíferos e concluiu que esses animais se tornaram monogâmicos quando as fêmeas se espalharam espacialmente atrás de alimentos. Procurar uma segunda parceira (com risco de não achar) significava liberar a primeira para a concorrência.

Com medo de ficar chupando o dedo, chacais, lobos e gibões, por exemplo, foram compelidos à fidelidade.

Outra equipe analisou apenas o comportamento de primatas (entre os quais os índices de monogamia chegam a 25%) e concluiu que o acasalamento com uma única fêmea foi a forma que os machos encontraram para defender seus filhotes.

Como a fêmea costuma adiar nova cópula até o crescimentos dos filhos, machos rejeitados matavam os jovens rebentos para que as fêmeas aceitassem emprenhar -deles, é claro.

Tudo indica que há várias explicações para a adoção da monogamia, conforme as necessidades de cada espécie. Não se fala em romance, paixão ou alma gêmea. A monogamia, na natureza, não é prova de amor, mas estratégia de sobrevivência. Veremos o que decidirá o jovem Canô.


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