Folha de S. Paulo


Lula vai à guerra, mas está cada dia mais fraco

Por mais que a máquina tenha se esforçado, está claro que a reação popular ao depoimento de Lula à Lava Jato ficou muito aquém do esperado pelos petistas. Talvez por isso Lula tenha pedido para ser algemado. Comporia melhor o papel de "vítima".

As manifestações em apoio ao ex-presidente foram mínimas, se tanto. Intelectuais e artistas, só os poucos de sempre, menos alguns. Chico Buarque não diz nada faz tempo. E o escritor Marcelo Rubens Paiva, esquerdista histórico e de valor, escreveu texto histórico cobrando explicações de Lula sobre seu patrimônio: "É tudo muito estranho e indigno a um ex-presidente da República. Ele deveria ter recusado tais mimos", escreveu Paiva. Outros, dentro do armário, devem estar pensando o mesmo.

Diante desse quadro terminal e da total inoperância de Dilma, que não consegue sequer nomear um ministro da Justiça, Lula foi a Brasília assumir o comando das tropas e dos recursos disponíveis à batalha final. Sua primeira foto foi com Renan Calheiros, segurando a Constituição brasileira. Uma imagem que vale mil palavras.

Lula quer assumir de vez o governo e de lá comandar a contrarrevolução. Ele colocou Dilma para cuidar do Brasil, mas não é bobo de deixar Dilma cuidar da sua defesa.

E Lula foi direto para a cabeça da Lava Jato, o juiz Sergio Moro. Dentro do pior espírito lulopetista, que um dia perseguiu Joaquim Barbosa pelas ruas de Brasília, a mãe do juiz, a professora Odete Moro, foi hostilizada ao receber homenagem de boa cidadã no Paraná. O Sindicato dos Advogados de São Paulo, um aparelho sindical do PT, pediu ao Conselho Nacional de Justiça a abertura de processo disciplinar contra Moro. Outras ações de constrangimento virão, cada vez mais pesadas. Mas não passarão.

Sem ter o que dizer diante da avalanche de confissões, provas e condenações de corruptos e corruptores, Dilma e o PT fingiam apoiar as investigações e insinuavam que as permitiam. A máscara caiu. Agora ou é a Lava Jato ou é Lula, Dilma, PT, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Collor —o Antigo Regime brasileiro.

E é muito mais do que isso. Hoje o que é ruim para Dilma e Lula é bom para o Brasil e vice-versa. Quem mostra isso é o mercado, que sempre se antecipa e é termômetro tão bom ou melhor que qualquer outro para medir o país. Qualquer evento que contribua para o fim deste desgoverno valoriza as empresas brasileiras na Bolsa e a moeda brasileira _ou seja, valoriza o Brasil. Para um banco americano, a Bovespa pode passar dos 70 mil pontos com uma queda ordeira de Dilma, uma valorização de 50%. Essa dinâmica está consolidada e nada parece capaz de mudá-la.

A perspectiva de mais mil dias de governo Dilma, portanto, é sombria. E parece cada vez menos provável. Ao contrário do que diz a máquina lulopetista, Lula saiu pequeno da condução coercitiva da semana passada e ontem foi indiciado pelo Ministério Público de São Paulo junto com a mulher e um dos filhos.

A Lava Jato, como diz Moro, só anda para frente. As pesquisas de opinião mostram que a grande maioria dos brasileiros quer caminhar com ela.

A esquerda brasileira precisa aderir a essa marcha. Que não é de golpistas, de extremistas, de elitistas ou de qualquer outra classificação preconceituosa e malandra que queiram dar. Dois terços da população brasileira apoiam o impeachment, o que significa que a imensa maioria dos brasileiros de baixa renda apoiam o impeachment.

A esquerda devia ir para a Paulista e outras vias do país no domingo para descobrir a verdade antes que a verdade passe por cima deles.


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