Folha de S. Paulo


Lula já tem o que dizer

O ex-presidente Lula pode finalmente quebrar o comprometedor silêncio em relação às benesses que recebeu de empresas e empresários que ganharam muito dinheiro no seu governo. Exemplo:

Pergunta - Embora o sítio de Atibaia não esteja em seu nome, por que o que foi feito por lá bancado por empresas e empresários investigados por corrupção no seu governo indicam o senhor e família como principais usufrutuários da propriedade?

Lula: Porque o Fernando Henrique mandou uma empesa privada com relações com o seu governo pagar no exterior uma amante com quem dizem que teve um filho.

Pergunta: Por que empresas acusadas de corrupção em seu governo fizeram reformas no sítio de Atibaia e no tríplex do Guarujá se o senhor não era o dono dos imóveis?

Lula: Porque o Fernando Henrique tem conta no exterior e mandou a amante fazer abortos.

Essa sempre foi a postura de Lula e do PT em relação aos fatos perturbadores que acompanham a história do partido desde que ele foi perdendo a inocência à medida em que ganhava poder.

Lula sempre se colocou e foi colocado por seus fiéis companheiros acima do bem, do mal e da Justiça. Em 2009, quando seu grande aliado José Sarney foi exposto pela imprensa em mais um escândalo, Lula disse: "Não li a reportagem do presidente Sarney, mas penso que ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum".

Lula nisso, como em quase tudo, tornou-se um típico político brasileiro. Como, aliás, FHC, em sua lastimável, para dizer o mínimo, atitude de pedir a uma empresa com relações com o governo federal pagar despesas de sua vida privada.

O episódio FHC, como outros tantos que implicam PSDB, DEM e partidos da oposição, mostra mais uma vez que a luta contra a corrupção e pela boa governança no país não deve dividir governistas e oposicionistas, esquerdistas e direitistas. Quem cai nessa faz o jogo de políticos malandros ou é bancado por eles.

A luta contra a corrupção deve unir os brasileiros anticorrupção contra os brasileiros a favor da corrupção.

A classe política é muito mais unida do que a disputa por votos e poder deixa transparecer. E o que a une são a defesa de seus privilégios (como o foro privilegiado) e as formas criminosas de operar, se financiar e, a partir delas, dominar o país e seus recursos.

Depois de séculos de indecências, finalmente o combate à corrupção aparece como a maior ou uma das maiores prioridades da população brasileira. A isso devemos ser gratos ao PT, que, com sua arrogância, ganância e desfaçatez, exacerbou essa revolta. E mais gratos ainda à Lava Jato e seus desdobramentos, maior ameaça até hoje ao antigo regime que vigora no Brasil desde 1500, como vimos na esperançosa decisão do STF de que não é preciso esperar décadas e prescrições de crimes para enviar bandidos de colarinho branco, azul ou vermelho à cadeia.

Num país onde quase 35% de tudo o que é produzido é tomado pelos governos por meios de tributos, impostos, taxas, contribuições etc, ou o governo é predominantemente eficiente e honesto ou jamais mudaremos de patamar de desenvolvimento.

Está ainda mais claro hoje que em cada alfinete comprado por repartições públicas em todo o país sob todos os partidos tem alguém de olho grande para tirar vantagem e dinheiro.

O país precisa de uma comissão da verdade de verdade que examine o que mais mata nesse país e o que mata esse país: a podridão de classe política e suas inescapáveis consequências.


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