Folha de S. Paulo


Primeiro prego no caixão do socialismo do século 21

Ganhe quem ganhe o segundo turno da eleição presidencial argentina, ela marca o fim da onda esquerdista que assolou a América Latina a partir da vitória de Hugo Chávez em 1999. Como era previsível desde a morte do venezuelano, o tal socialismo do século 21 não sobreviverá à sua segunda década.

Tanto o candidato do governo argentino quanto o da oposição prometem adotar medidas pró-mercado, revertendo o intervencionismo da era Kirchner que legou uma economia atrasada e fraca e um país atrasado e fraco.

Tudo funcionou, digamos, bem para a frente esquerdista populista que assumiu o poder na Venezuela, na Argentina, no Brasil, na Bolívia, no Equador e em outros coadjuvantes. Os neocaudilhos, em diferentes tons de vermelho, acumularam vitórias no continente depois das crises dos emergentes dos anos 1990 terem exposto a inconsistência das reformas liberalizantes na região.

Depois de tantas derrotas, a esquerda latino-americana teve a chance de sua vida. Sua chegada ao poder, pelo voto, coincidiu com a era de prosperidade que dominou o planeta até o crash global de 2008. Foi a época do longo superciclo das commodities, que, com o aquecimento global da economia, fez explodir o preço dos produtos básicos que os países latino-americanos sempre exportaram, de alimentos a minérios.

Por mais que as viúvas de Chávez e do PT propagandeiem que foram eles que tiraram dezenas de milhões de pessoas da pobreza, praticamente todos os países emergentes do mundo passaram por evolução semelhante, independentemente de sua cor política.

Na América Latina, e especialmente no Brasil, calhou de a esquerda estar no poder e entender que só tinha a ganhar entrando na dança do capitalismo global. Quanto mais dançaram, mais ganharam. Chávez, apesar de todo o seu teatro antiamericano, nunca atrasou a entrega de um galão de petróleo aos EUA, seus maiores financiadores.

Ironias da história, a esquerda latino-americana foi quem mais aproveitou o sucesso e os excessos do capitalismo financeiro mundial que marcou o início deste século. Era uma época em que cabia até desaforo.

Tragicamente, toda essa bonança foi desperdiçada em medidas populistas, intervencionistas, patrimonialistas, corruptoras, que muito pouco ou nada trouxeram de eficiência e produtividade à economia dos países, à capacidade nacional de gerar riqueza. Pelo contrário. A PDVSA, a outrora produtiva estatal venezuelana de petróleo, definha. A Petrobras também.

Agora que a farra acabou, os caudilhos estão nus. A mãe de todas as Repúblicas bolivarianas, a Venezuela, é o caso mais terminal. Torna-se cada vez mais autoritária enquanto faltam produtos básicos e surgem filas diárias diante dos supermercados, como acontecia antes da queda da União Soviética.

No Brasil, Dilma Rousseff decidiu desviar do caminho pró-mercado do antecessor e, ao adotar um intervencionismo tosco e ideologizado, destruiu a estabilidade econômica duramente conquistada e junto com ela milhões de empregos e sonhos emergentes da população que os socialistas dizem proteger.

Mas não passarão à próxima década.

Os argentinos pregaram o primeiro prego no caixão do socialismo do século 21. A Venezuela pregará o segundo nas eleições legislativas de dezembro. O Brasil deve pregar o último nas eleições presidenciais de 2018, se Dilma e o país sobreviverem até lá.


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