Folha de S. Paulo


Este é um país que vai para trás

O rebaixamento da nota de crédito do Brasil é mais um claro sinal do quanto estamos andando para trás, um marco no nosso acelerado retrocesso.

A conquista do grau de investimento, em 2008, foi festejada como novo patamar de desenvolvimento de um país que se tornara mais responsável e por isso mais seguro e atraente aos investidores.

O fato de termos conquistado o selo de bom pagador pelas agências globais de risco em pleno governo petista teve significado ainda maior.

Mas aí Lula ungiu Dilma Rousseff para sucedê-lo, e não sobrou pedra sobre pedra daquele Brasil que ia para frente.

A sucessora demoliu o caminho duramente construído de progresso econômico e social e colocou no lugar um intervencionismo estatal rudimentar que matou o espírito animal da economia brasileira. De quebra, quase quebrou o país com um populismo fiscal calibrado para reelegê-la, custasse o que custasse.

Custou muito. Estamos pagando a conta. E ela não fecha. A presidente enviou uma proposta de Orçamento para o ano que vem prevendo deficit! Foi um gesto bruto, que, como costuma ser com Dilma, mirou um alvo (forçar o Congresso a aprovar mais impostos e barrar despesas) e acertou outro (a credibilidade fiscal do país).

Mas se as irresponsabilidades de Dilma são graves o suficiente para afundar o Brasil, sua incapacidade de fazer política nos leva mais fundo ainda no buraco.

O Congresso e a classe política têm como sempre parte relevante de culpa. É um escárnio a aprovação das pautas-bomba que aumentam custos em plena penúria e a não aprovação de medidas que reduzam despesas. Corporações de servidores "públicos" que só pensam neles e se lixam para o Brasil também colaboram para a catástrofe exigindo aumentos neste momento.

A agência Standard & Poor's, a primeira a dar o grau de investimento ao país e a primeira também a retirá-lo, foi clara ao explicar seus motivos, entre os quais: inconsistência na política fiscal, com déficits recorrentes e aumento preocupante da dívida pública; desafios políticos que o governo não consegue superar; divergências na equipe econômica.

O mercado e o mercado da política vão ferver hoje. Bilhões de reais serão perdidos no câmbio e na Bolsa nos próximos dias.

Para que também esses bilhões não sejam sacrificados no ralo de nossa renascida miséria, só há uma coisa a fazer: entender de uma vez por todas que não se pode gastar impunemente dinheiro que não se tem, mesmo que seja gasto com o suposto propósito de preservar empregos e benefícios sociais.

Ao final, objetivamente, o resultado é o oposto. A perda do grau de investimento e suas consequências deixam isso ainda mais claro para quem quiser ver. Mas muitos preferem a cegueira.


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