Folha de S. Paulo


O povo, desunido, sempre será vencido

É alentador ver o número cada vez maior de esquerdistas progressistas se unirem aos outros progressistas do país na condenação do indefensável.

A pauta contra a corrupção em todos os níveis e governos é a pauta principal do Brasil. Num país em que o governo toma 35% de tudo o que se produz, ou o governo é eficiente ou não haverá futuro nem presente.

Não há nada de golpista em defender a queda de um governo acusado de tantas coisas na Justiça. Se o Brasil fosse desenvolvido, aliás, o governo tinha caído há muito tempo. Este e vários outros, de todos os partidos.

Haveria defesa de golpe se se defendesse a queda da presidente por vias não constitucionais. Não é o caso. Ninguém, ou quase ninguém, está defendendo isso. É a Justiça que expõe em ritmo alucinante provas e mais provas de graves crimes no governo e nos partidos que o apoiam. Imagine se fosse na Alemanha, nos Estados Unidos, na Suécia, no Reino Unido, no Canadá, no Japão, na Coreia...

Entre os péssimos "argumentos" para defender o que está aí, um dos piores é a sugestão de que isso sempre se fez no Brasil e que só se está investigando agora por perseguição das elites contra o governo popular.
Outro intragável é dizer que o combate à corrupção política na Itália deu no Berlusconi, melhor então não combatê-la. Outro: os delatores que confessam crimes, revelam sistemas de corrupção epidêmicos e produzem provas materiais do que estão dizendo são traidores da pátria. Eles são heróis sem nenhum caráter, tipicamente brasileiros.

E há ainda aqueles que, cheios de ódio, acusam os outros de ódio. Ou que, depois de roubar o dinheiro dos pobres, dizem que são os outros que fazem isso.

Na verdade, não há argumento para defender o status quo. Por definição, o PT é o status quo. Tendo agora uma parte do PMDB como fiador, prega e pratica como saída da crise uma das principais causas da crise: a distribuição fisiológica de cargos públicos.

Apesar de tudo isso, a propaganda governista ainda convence crentes remanescentes de que a crise é um embate entre direita e esquerda, ricos e pobres. Mas as pesquisas de opinião mostram claramente que há mais pobres do que ricos condenando o governo, mais trabalhadores do que patrões a defender um impeachment.

Ontem, o presidente da maior central sindical do país, atrelada e nutrida pelo governo, disse, em encontro de movimentos sociais e diante da presidente da República, que se deve pegar em armas para defender o governo. Contra quem? As leis? As investigações da Justiça? As manifestações pacíficas? Isso é que é golpe.

O maior movimento social do Brasil hoje é o que leva centenas de milhares de pessoas às ruas espontaneamente pedindo o combate à corrupção.

A esquerda deveria participar e ser acolhida nesse movimento. O povo, unido, jamais será vencido.


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