Folha de S. Paulo


Recuo do PT abre avenida para direita

Ainda é duvidoso se estamos vivendo o começo do fim do antigo regime ou se é só um espasmo antes de nova acomodação. Uma coisa o governo Dilma conseguiu, ressuscitou a direita como força política nacional. Este pode ser seu maior legado e é a grande novidade do cenário político.

Desde o fim da ditadura, que transformou direita em palavrão, o diapasão político partidário brasileiro praticamente só oscilou do centro à esquerda. Lula chegou a promover e depois comemorar o extermínio da direita, mais um legado seu que Dilma desmontou.

O brasileiro é antes de tudo um conservador. A eleição de Lula só veio quando ele, Dirceu, Palocci e outros levaram o partidão para o centro e abraçaram a economia de mercado. A reeleição de Dilma se deveu mais ao medo de perder o pouco conquistado do que a qualquer outra coisa.

O Datafolha mostra o consistente apoio das massas a valores conservadores e sua posição à direita da prática política nacional dos últimos 20 anos. A emergência das massas é a emergência dessa agenda. Vários partidos já estão de olho nesse movimento.

A redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, por exemplo, tem apoio de 90% da população. Espanta não o avanço desse tema no Congresso, mas por que levou tanto tempo para ele avançar.

Na passeata da CUT na avenida Paulista, entre gritos de "Vamos esmagar a direita", testemunhei diálogo revelador. Três funcionárias de uma loja perguntaram à segurança de um shopping sobre aquele pessoal de coletinho vermelho. Ela respondeu ser um protesto justo pelos direitos dos trabalhadores e saiu andando. As três moças fizeram careta e com forte sotaque e humor nordestinos comentaram: "petista", "vai viver de Bolsa Família", "não gosta de trabalhar".

Existe um outro povo e uma outra agenda que passam longe do populismo esquerdista petista e hoje estão mais representados nas Casas do Congresso do que no Palácio do Planalto.

A ver onde vai dar ou não vai dar. Mas a re-emancipação política da direita é tendência sem volta.

Em sua mais grave crise, o PT recua, atirando, para as suas bases no sindicalismo e nos movimentos que controla, reassumindo posições ultrapassadas e excludentes.

Deixou uma avenida para a direita, que por ela desfila.


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