Folha de S. Paulo


Ô, ô ô, a classe A acordou

Numa eleição histórica (qual não é?), outra grande novidade: a primeira manifestação de massa da classe A brasileira. Uma muito efêmera Woodstock dos ricos paulistanos, com momentos catárticos e homens de terno gritando fora PT!

Era um mar de ricos a remediados inundando a Faria Lima até não se ver mais. Tinha muita gente saindo do mercado e dos escritórios de advocacia, tinha muita mulher bonita, tinha muito playboy, tinha gente chegando de carro importado e motorista, de táxi, tinha famílias inteiras.

Prato cheio para jornalistas, humoristas e críticos em geral que amam odiar as tais elites brasileiras, como se rico e capitalista fosse crime maior que todos os outros, inclusive os tipificados em lei.

Na verdade, são os empresários pequenos, médios e grandes, quase todos membros da elite vilificada, que promovem a inclusão social brasileira gerando os empregos e pagando os impostos que garantem os programas assistenciais dos governos.

A manifestação foi convocada pelas redes sociais para o largo da Batata, de onde partiram algumas das maiores passeatas de junho de 2013. Estimadas dez mil pessoas desfilaram na avenida para apoiar Aécio e gritar fora PT. Não vi nenhum rico comendo criancinha ou tirando comida do prato do pobre. Nem vi nazista.

Os organizadores se surpreenderam com tanta gente. Mesma convocação pelas redes na semana passada havia reunido apenas centenas de pessoas. Mas a radicalização eleitoral, a revolta com a dominação petista e a agressividade da campanha antirricos tirou essa turma de sua lendária zona de conforto. E as novas redes fizeram o resto.

Apesar de Dilma liderar as pesquisas, o clima era de festa e alegria. Um dos organizadores até pediu aplauso para a polícia militar, e foi atendido. Segurança pública está no topo das demandas (de ricos e pobres).

Estrelas tucanas e simpatizantes se revezaram de forma improvisada no caminhão de som: José Serra, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini, FHC (muito aplaudido), Ronaldo, o fenômeno.

A ver se consequência terá no resultado eleitoral. Um resultado, porém, parecia claro na animada Faria Lima: "Yes, we can" (ou "Uai we can", como brinca camiseta de grife local estampando foto de Aécio a la Obama).

A propaganda petista opera milagres. Um dos mais inesperados pode ser o surgimento do movimento político dos ricos brasileiros.

Se a elite do país, nutrida pelas melhores universidades e empregos do Brasil e do mundo, não estiver incluída na solução dos nossos problemas, eles dificilmente terão solução.

Afinal, a pauta dos ricos é a mesma dos pobres: todos querem um país mais desenvolvido, mais justo, mais eficiente, mais honesto. União e progresso.


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