Folha de S. Paulo


Entre a herança maldita e o futuro maldito

O futuro maldito que o PT projetou já está entre nós. As imagens selvagens da greve de ônibus em São Paulo são por definição muito mais realistas que as cenas do último filme publicitário do partido.

A greve de emboscada sangrou a metrópole e deixou o trabalhador sem condução na volta para casa. Ainda bem que o brasileiro não é babaca e nunca teve problema em andar a pé, como disse Lula outro dia. Será?
Antes de São Paulo, foram os saques em Pernambuco e as dezenas de mortes na Bahia durante greves de policiais absurdamente rotineiras que forneceram cenas horripilantes para um filme muito mais assustador que a última obra de João Santana.

O país, em todas as esferas, se revela incapaz de administrar conflitos e harmonizar demandas. Os políticos trocam acusações e transferem culpa. Os grupos organizados pensam só em seus estreitos interesses. O debate é sectário, sem resultante. A conta não soma, subtrai.

O mal estar da civilização brasileira é óbvio e crescente, refletido no desejo de mudanças da imensa maioria dos brasileiros. A sensação é de volta ao país fracassado que foi o Brasil por décadas. E ninguém quer voltar a perder tempo.

A era FHC-Lula acendeu uma luz no fim do túnel e mostrou o caminho: democracia liberal e economia de mercado, com viés distributivista. Mas alguma coisa aconteceu no caminho para a prosperidade. O condutor mudou a rota, e o trem descarrilou. A mão pesada de Dilma na economia matou o espírito animal dos empresários. E a economia foi justamente o lugar onde Dilma de fato operou. Ela esnobou a política, ignorou a diplomacia e interveio numa economia que, ainda cheia de problemas, acelerava de forma consistente pela primeira vez na história recente do país.

Ao contrário do seu criador, Dilma é inflexível. Não admite seus erros. Não admite se dobrar ao mercado, como Lula fez na Carta aos Brasileiros, e sinalizar que aprendeu a lição dos seus fracassos. Ela vê a maior fonte de recursos do planeta, o mercado de capitais, como um inimigo. Vê o maior multiplicador de riqueza do planeta, o empreendedor/empresário, com desconfiança.

Sobrou o populismo. E a propaganda que o propaga. Só que as cenas da vida real estão mais fortes.

Entre a herança maldita e o futuro maldito, o que fica cada vez mais nítido é o presente maldito.


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