Folha de S. Paulo


"Rolezinho" choca futuro contra arcaico

O fenômeno "rolezinho" choca o mais futurista contra o mais arcaico do Brasil.

O futuro está no empoderamento, lento, das periferias brasileiras, que hoje têm mais educação, mais consciência, mais renda e poderosas ferramentas de expressão e organização.

O arcaico se revela no medo do antigo Brasil do apartheid econômico, social, educacional, habitacional, político e outros diante da insurgência periférica.

E a insurgência do "rolezinho" é nada diante do potencial de revolta dessa massa massacrada que vive nas periferias urbanas brasileiras. Sua emergência econômica na década passada, interrompida pela estagnação dos últimos anos, serviu de anestésico, mas a anestesia uma hora passa. No capitalismo, quanto mais se tem, mais se quer.

Como a reveladora cobertura desta Folha mostrou, os "rolezinhos" nada tinham de politizados na origem. Nasceram de encontros de ídolos periféricos das redes sociais com suas legiões de fãs. E evoluíram para manifestações mais duras do poder periférico justamente no coração do sistema socioeconômico brasileiro: o shopping.

O stablishment, claro, foi pego de surpresa. O Brasil não conhece o Brasil. E reagiu da forma mais natural: pau neles. A solução do cassetete, porém, como vimos nas manifestações de junho, pode surtir efeito contrário do desejado.

O Palácio do Planalto já farejou o perigo. O Palácio dos Bandeirantes também. O que não era, virou político. E cresce. Vários "rolezinhos" foram programados país afora nas próximas semanas, com agenda política. O medo nos palácios, agora como em junho, mostra como seu poder e sua representatividade são frágeis. E como eles não têm respostas para os problemas do país.

O "rolezinho" não é ainda a revolução, mas sinal de que ela virá se o caminho do desenvolvimento social e econômico não for retomado ou se a dose de anestesia não for reforçada.


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