Folha de S. Paulo


Joaquim Barbosa ameaça outros partidos

A política é cínica sem perder o realismo jamais. Por isso pouco barulho fez o estrondoso resultado de Joaquim Barbosa na última pesquisa Datafolha.

Como Barbosa (ainda) não é político, não tem partido, não tem tempo na TV, não tem marqueteiro, não tem base nem doadores, não pode ter sucesso numa eleição como a presidencial, tranquilizam-se os políticos tradicionais.

Os números até aqui: Barbosa, sem nada disso, ficou em segundo lugar na pesquisa presidencial, com 15%, à frente de Aécio Neves (14%) e Eduardo Campos (9%), que têm tudo isso.

Barbosa tem outras coisas. Encarnou o maior desejo da imensa maioria de brasileiros em relação à política e às políticas públicas: que sejam mais honestas, mais eficientes e mais justas. Foram essas bandeiras, e não o movimento do passe livre, que uniram e impeliram os protestos populares de junho passado, o inverno de nossa esperança.

Barbosa é disruptivo, como o desejo dos brasileiros em relação à forma de se fazer política e governar. O fato de ser negro e de origem humilde (nosso eufemismo preferido para pobre) lhe dá ares lulísticos, messiânicos. Ele de pé, capa negra, irascível, determinado, no púlpito maior da Justiça brasileira, mandando para a prisão barões da política é uma imagem digna de João Santana ou Glauber Rocha.

Até a maioria dos petistas concorda com ele, mostrou o Datafolha.

Assim como o surto Celso Russomanno nas eleições municipais de São Paulo sinalizava ano passado, o terreno será cada vez mais fértil a candidaturas de "outsiders" do sistema político. O espetáculo diário de acusações gravíssimas de corrupção contra governos e oposições alimenta um repúdio geral que pode no extremo ameaçar a estabilidade política.

Os 15% de intenção de votos de Barbosa são um sinal, mais um, de que a política brasileira tem de mudar antes que um aventureiro ameace a governabilidade.

Enquanto os avanços econômicos nos últimos 20 anos levaram o país a realizar ao menos parte de seu enorme potencial, sustentando o discurso do novo Brasil, a política permanece bastião do velho Brasil, hoje o maior inibidor do desenvolvimento nacional.

As breves passeatas de junho foram a maior ameaça a esse sistema que nos aprisiona. Ele só vai melhorar, se você voltar para a rua.


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