Folha de S. Paulo


Só o populismo salva

A economia brasileira cresce pouco, muito pouco, no governo Dilma. O grande problema é o investimento. Dilma precisa de um João Santana para conquistar também os empresários-investidores, ou não vamos muito longe como pensávamos que iríamos não muito tempo atrás.

Depois de séculos de frustração, fomos logo concluindo que o país do futuro tinha finalmente chegado ao presente. A sequência FHC-Lula, de 16 anos, fechou o consenso em torno da democracia e do capitalismo e destravou o país.

Ao final do governo Lula, crescíamos a 7,5%. Mas aí veio Dilma, eleita no dedaço de Lula: na verdade, eleita pelos frutos do capitalismo brasileiro brilhantemente capitalizados pelo PT.

A candidata da continuidade assumiu o poder e descontinuou a bem sucedida política econômica que herdou.

Ao contrário de Lula, Dilma briga com o mercado financeiro e com setores empresariais quando mais necessita deles. A falta de investimentos estanca o país. O Estado não consegue investir com eficiência, como mostram o PAC e o pré-sal, e são justamente os empresários e o mercado que os financia que podem e devem assumir esse papel.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado em 2007 por Lula e Dilma, não consegue entregar o muito que o país precisa, como mostram os gargalos expostos da infraestrutura brasileira.

A Petrobras, acorrentada por má gestão e interferências danosas à sua atividade-fim, não consegue explorar o pré-sal como o pré-sal deveria ser explorado. Mas a modelagem de exploração arquitetada por Dilma excluiu as empresas privadas, ao invés de deixá-las investir na difícil e custosa extração e depois cobrar pelo óleo extraído.

São exemplos claros da indisposição da presidente com setores seminais do mercado e dos empresários-investidores.

Mas o pibinho está se impondo, e o governo vem tentando uma abertura para os capitalistas e para o lucro privado, mesmo a contragosto.

A falta de confiança dos empresários-investidores, porém, é tanta que será preciso um grande marqueteiro para acertar a comunicação com esse setor seminal da economia.

Ao contrário de Lula, pai dos pobres, mãe dos ricos, o governo Dilma até aqui só soube (ou só quis) falar bem com as massas eleitorais. Nisso acerta de forma genial, mérito de um partido eficiente e com visão precisa dos anseios sociais.

Mas se não acertar o diálogo com o chamado andar de cima, as coisas mais cedo ou mais tarde vão se agravar.

Há sinais de perigo por toda parte: investimento estagnado, inflação em alta, crédito desacelerando, saldo comercial encolhendo.

Mas o emprego e a renda seguem fortes como nunca antes na história do país, a arrecadação de impostos é voraz e enche os cofres públicos, há espaço para endividamento.

Com programas sociais cada vez mais abrangentes, não é difícil manter por alguns anos a satisfação pessoal das massas, que ainda carregam na memória coletiva séculos de sofrimento e exploração desembestada.

Dilma assim reina absoluta, do alto de sua impressionante popularidade, distribuindo benesses à custa das empresas e dos contribuintes em geral.

Do jeito que estão as coisas, só o populismo salva (o governo).


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