Folha de S. Paulo


Se Cabral saísse às ruas

José Lucena/Futura Press/Folhapress
RIO DE JANEIRO,RJ,10.07.2017:DEPOIMENTO-SÉRGIO-CABRAL - O ex-governador Sérgio Cabral deixa sede da Justiça Federal no Rio de Janeiro (RJ), após prestar depoimento na manhã desta segunda (10). O ex-governador está preso desde novembro do ano passado por envolvimento em esquemas de corrupção. (Foto: jose lucena/Futura Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Ex-governador Sérgio Cabral deixa sede da Justiça Federal no Rio de Janeiro após prestar depoimento

RIO DE JANEIRO - Pena o ex-governador Sérgio Cabral estar atrás das grades e sem perspectiva de sair tão cedo. Se pudesse deixar a prisão nem que fosse por algumas horas e dar umas voltas pelo Rio, poderia observar em pessoa alguns efeitos que sua administração provocou na cidade que tantas vezes o elegeu. Embora esteja preso há apenas nove meses, Cabral não teria como ignorar as alterações em relação ao tempo em que ainda podia circular pelas ruas.

Ele estranharia a quantidade de placas de aluga-se, passo o ponto ou de liquidação para entrega das chaves nas fachadas dos prédios. Talvez não entendesse a proliferação de certo comércio informal em esquinas em que, até há pouco, isso seria impensável. Nunca houve, por exemplo, tanta gente vendendo livros e discos na calçada, nem roupas velhas, tipo brechó, e, agora, uma novidade: homens bem vestidos vendendo quentinhas, estocadas em carros estacionados.

E talvez Cabral se surpreendesse ao saber dos 4.154 estabelecimentos fechados e 2.062 empresas extintas apenas no primeiro semestre deste ano, incluindo até lojas de móveis, de vestuário e restaurantes que ele costumava frequentar. Algumas dessas grifes tinham mais de 60 anos —já existiam antes de ele nascer— e uma brava história de sobrevivência às crises do Brasil. Mas não sobreviveram a mais uma crise, agravada pela sua administração.

Cabral não pode nem alegar que só fez o que Lula e Dilma fizeram no plano federal: quebrar o Estado ao desobrigar empresas de pagar tributos —as famosas desonerações. Fez isto e mais, arriscando-se, como se sabe, a morrer com a boca cheia de diamantes.

Aliás, não lhe falem de Lula e Dilma. Réu em tantos processos na Lava Jato, ele não recebeu até agora nem uma palavrinha de apoio de seus padrinhos de recasamento com Adriana Ancelmo em 2010.


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