Folha de S. Paulo


Tudo bem?

Sérgio Lima/Folhapress
ORG XMIT: 514601_0.tif BRASÍLIA, DF, BRASIL, 16-05-2005: Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional. (Foto: Sérgio Lima/Folhapress) ***EXCLUSIVO***
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional

RIO DE JANEIRO - Até há pouco, um chato era o sujeito a quem você dirigia um cordial, simpático e burocrático "Tudo bem?", e ele respondia com um minucioso relato sobre o seu —dele— cálculo biliar, alteração da urina ou tendência ao panarício. Caso em que, depois de cinco minutos de mazelas em desfile, você começava a se sentir mal por também não acusar alguns dos sintomas descritos pelo seu infeliz interlocutor.

Mas isso foi antes de a situação no Brasil chegar ao atual descalabro. Outro dia, uma vizinha me cumprimentou na calçada com um "Tudo bem?" e ficou chocada quando eu inocentemente respondi: "Tudo ótimo!". Ela devolveu um acusador "TUDO ÓÓÓTIMO???" em caixa alta, negrito e itálico, e me fuzilou por trás dos oclinhos –como se eu tivesse acabado de chegar de Júpiter e não soubesse das mazelas em curso no país. Logo me dei conta da gafe e tentei explicar: "Não! Está horrível! É que só hoje comecei a sair de um resfriado brabo e por isso, em comparação, até que estou ótimo!". Ela avaliou a resposta e pareceu me deixar sub judice.

A verdade é que, desde que se estabeleceu no Brasil o "Tá rúim!", perguntar "Tudo bem?" a alguém deixou de ser uma opção válida. E não vem de hoje, mas desde pelo menos janeiro de 2014. Aliás, já vinha mal antes, mas era bem acobertado ou envolto em números enganadores —e nem isso evitou as monumentais manifestações de 2013 (teriam acontecido se estivesse tudo bem?).

Uma resposta que admitia o péssimo estado de coisas, mas abria uma janela para o otimismo foi proposta há tempos por Zeca Pagodinho: "Tá rúim, mas tá bom". Ou seja, poderia estar pior.

Pois, agora, não poderia estar pior. Há os que se queixam da "judicialização" do país. Mas a maioria está revoltada é com os refrescos judiciais dados a Lula, Temer, Aécio e respectivas quadrilhas.


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