Folha de S. Paulo


Engolindo lixo

Divulgação/Instituto Argonauta
Golfinho é encontrado morto com chinelo de borracha preso à boca
Golfinho é encontrado morto com chinelo de borracha preso à boca

O mundo piora de hora em hora e, talvez por isto, o fotojornalismo vive um grande momento. Um exemplo é a exposição World Press Photo, com os principais registros fotográficos de 2016 -vários brasileiros-, que visitei outro dia no Centro Cultural da Caixa. Uma das imagens que me tocaram foi a da tartaruga que reboca uma rede de pesca no mar das ilhas Canárias. Até onde terá nadado com aquele peso às costas? Isto se já não tiver morrido de inanição, por comer plásticos flutuantes que pensou ser águas-vivas.

Dias depois, soube de um golfinho que prendeu seu focinho na tira de um chinelo de borracha, em Ubatuba, o que o impediu de se alimentar e o fez também morrer de inanição.

E li há pouco que 25 dos 29 recifes de coral listados como patrimônio mundial da Unesco podem desaparecer, corrompidos pelo efeito estufa. Os corais não são só curiosidades turísticas. Protegem as comunidades costeiras contra alagamentos, abrigam uma rica vida marinha e garantem o sustento de multidões de pescadores.

Sem falar na inacreditável ilha do Lixo, no Pacífico, a 1.600 km da Califórnia, formada por dejetos da civilização, levados pelas correntes marítimas e agregados numa área igual ao RJ, MG e ES somados. Talvez seja uma avant-prémière da catástrofe prevista por Denise Hamú, ambientalista da ONU no Brasil, de que, até 2050, arriscamo-nos a ter "mais plástico nos mares do que peixes", como ela disse ao "Globo".

Se parece impossível que o mar e seus habitantes possam morrer um dia, basta constatar o volume de lixo que lhe despejamos por segundo e ele é obrigado a engolir -sacos de supermercado, fraldas, camisinhas, garrafas pet, canudinhos de refrigerante, quilômetros de fio dental e xixi com resíduos de Ecstasy, Viagra e Rivotril. Imagine se lhe jogarmos políticos.


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