Folha de S. Paulo


Impresso em carbono

Cortesia de Mortimer Rare Book Room/Smith College
Sylvia Plath tomando sol em 1946 ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Sylvia Plath em foto de 1946; ela é considerada uma das mais importantes escritoras norte-americanas

RIO DE JANEIRO - A notícia de que descobriram dois poemas inéditos da americana Sylvia Plath (1932-1963) em folhas de carbono, arquivadas com outros papéis da autora na Universidade de Indiana, nos EUA, me encantou. Não pelos poemas, que não li —e que, segundo o pesquisador Peter K. Steinberg, pertencem a uma Sylvia imatura, 24 anos em 1956—, mas por terem sido encontrados num veículo que não sei se ainda existe: o papel-carbono.

Os menores de 30 anos talvez nunca tenham visto um. Era uma folha de papel com um lado coberto de tinta. Colocada entre duas folhas comuns, imprimia na segunda o que se escrevia, a mão ou a máquina, na primeira. Servia para se produzir cópias de um original, para garantir —o que, hoje, em português, se chama de back up— ou para repassar a vários destinatários. Alguns carbonos resistiam a muitos originais; outros se esgotavam depois de certo uso. O futuro de todo carbono, no entanto, era a cesta de lixo, e era com pesar que nos despedíamos dele.

A prova de sua utilidade está no fato de que Sylvia pode ter descartado esses poemas, talvez por não acreditar na qualidade deles, ou simplesmente perdido seus originais. Mas não se desfez dos carbonos em que produziu suas cópias datilografadas e, 60 anos depois, eis os poemas de volta.

Deve ter sido difícil para Steinberg ler o texto impresso no carbono —é como ver uma foto num negativo. Mas posso imaginar sua alegria ao identificar cada palavra, verso ou estrofe. Alegria que não sei se seria compartilhada por Sylvia. Afinal, se nunca publicou aqueles poemas, por que eles deveriam vir à luz agora?

De minha parte, posso garantir: não deixarei inéditos. Tudo que escrevi até hoje, com ou sem cópia em carbono, saiu em jornal, revista ou livro. Falta-me publicar em bula de remédio, mas não perco a esperança.


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