Folha de S. Paulo


A leitura sem fim

Lalo de Almeida/Folhapress
Brasilia, DF. 08/06/2017. Ministros participam de sessão de julgamento da chapa Dilma-Temer no plenário do Tribunal Superior Eleitoral em Brasilia. Foto: Lalo de Almeida/ Folhapress ) PODER
Ministros participam de sessão de julgamento da chapa Dilma-Temer no plenário do TSE

RIO DE JANEIRO - Pensei estar sofrendo uma alucinação auditiva ao ouvir no rádio que o processo no TSE contra a chapa Dilma-Temer tinha 8.000 páginas. Fiz os cálculos e concluí que isto representava mais que "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust, "Ulisses", de James Joyce, e "Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa, somados –sem os prazeres que a leitura desses livros propicia. Pior: um cidadão comum pode dedicar a vida a tais monumentos literários, mas as páginas de um processo, não importam quantas, têm prazo para ser lidas. A Justiça, por mais tarda, precisa andar.

Imagino que essa montanha de material não seja lida na íntegra pelos juristas individualmente. Mais provável é que seja dividida e distribuída entre equipes. Mas sempre haverá uma instância em que alguém terá de proferir um julgamento. Não posso considerar abalizado esse julgamento se o magistrado em questão não tiver lido o equivalente aos três maciços volumes de "O Conde de Monte Cristo", de Alexandre Dumas.

Fico me perguntando, então, a quanto montam os processos atualmente em curso na Lava Jato. Em conjunto, devem ocupar, no mínimo, o espaço de "A Comédia Humana", de Balzac, com seus nada menos que 88 romances isolados, vários em quatro ou cinco tomos e muitos com quase 1.000 páginas.

Os processos do ex-presidente Lula, por exemplo, são uma cordilheira de documentos, planilhas, comprovantes, extratos, notas fiscais, e-mails e contratos, tudo em duplicata, somados a uma "juntada" de ofícios de empresas de auditoria internacional, às quilométricas transcrições das delações da acusação e das testemunhas de defesa, e às intermináveis "alegações finais". E isso para cada um dos processos a que ele responde.

Deve ser uma leitura fascinante. Mas será possível chegar ao fim dela sem antes morrer de velhice?


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