Folha de S. Paulo


A melhor homenagem

David Drew Zingg - 15.set.97/Folha Imagem
O cantor e pianista Bobby Short

RIO DE JANEIRO - Uma amiga me manda de Nova York a foto de uma placa na esquina da rua 76 Leste com a Madison Avenue dizendo: "Bobby Short Place". Ali fica o Café Carlyle, a boate onde Bobby Short (1924-2005) reinou durante 37 anos como cantor, pianista e sinônimo do que Manhattan entendia como sofisticação. Talvez não desse para render a Bobby uma rua, e nem Nova York vive trocando o nome de suas ruas. Mas valeu-lhe uma placa, e no seu pedaço da cidade.

Uma placa simbólica, nas proximidades da placa oficial da rua e sem substituí-la. É como Nova York homenageia seus ilustres, sem infernizar a vida dos moradores e comerciantes da dita rua obrigando-os a tirar novos registros na prefeitura e sem bagunçar o trabalho de entregadores, carteiros e motoristas de táxi. A denominação pode variar —"place" (lugar), "corner" (esquina), "spot" (ponto)—, mas o fim é o mesmo: ligar aquele pequeno trecho à pessoa que o enobreceu.

Tom Jobim morreu, em dezembro de 1994, e o então prefeito do Rio Cesar Maia teve a falsa boa ideia de dar o seu nome à avenida Vieira Souto, em Ipanema, evaporando o do homem que sempre a batizou —como se Luiz Raphael Vieira Souto (1849-1922) fosse um qualquer, e não um dos brilhantes engenheiros que sanearam e modernizaram o Rio na virada do século 20. A família de Vieira Souto estrilou e Maia teve de recuar.

O próprio Tom não aceitaria virar avenida. Quando Vinicius de Moraes morreu, em 1980, e deram o seu nome à tradicional rua Montenegro, ele disse: "Os carros agora passam por cima do Vinicius e os cachorros mijam nele". Pois Tom acabou virando aeroporto —logo ele, que não gostava de avião.

Na época, ofereci uma sugestão: uma placa auxiliar sob a placa oficial, em cada uma das 12 esquinas da Vieira Souto, dizendo apenas "Praia de Tom Jobim". Ninguém deu bola.


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