Folha de S. Paulo


Liberou geral

Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
30.01.2015 - Um homem que mantinha estufas de maconha em uma casa de luxo no Alto da Boa Vista, na zona norte do Rio de Janeiro, foi preso nesta sexta-feira (30) por investigadores da Polícia Civil. A droga era cultivada dentro de um armário no quarto do filho do dono do imóvel. O homem de 30 anos foi detido em flagrante por tráfico de drogas e pode pegar até 15 anos de prisão. Ele alegou à polícia que o cultivo da droga tinha fins medicinais. Foto Divulgação/Polícia Civil do Rio de Janeiro
Plantação caseira de maconha em uma casa de luxo no Alto da Boa Vista, na zona norte do Rio

RIO DE JANEIRO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o juiz do STF Luís Roberto Barroso e outros eminentes palpiteiros na questão das drogas devem ter sabido da tragédia do menino João Victor, 13 anos, morto à porta de uma lanchonete em São Paulo. A perícia concluiu que a causa foi um ataque cardíaco provocado pelo consumo de cheirinho da loló —uma droga inalante à base de clorofórmio (daí a corruptela loló), éter e, agora, para fazer volume, solventes como gasolina, inseticida, detergentes, desinfetantes.

Todos esses produtos são legais e estão à venda no comércio. Nenhum foi concebido para ser usado como droga, mas sua inalação pelo nariz ou boca provoca uma suave e quase instantânea —sete a dez segundos— sedação. O efeito se dissipa em minutos, obrigando o usuário a nova aplicação. Em um ou dois meses de uso regular, a dependência é inevitável, exceto se interrompida pela morte súbita, comum no universo da loló. O preço em conta —tubinho de 25 ml a R$ 5, no traficante da esquina –responde pela popularidade da loló, hoje atrás apenas da maconha entre os adolescentes.

Às vezes tento imaginar a reação de um traficante à possível descriminalização ou legalização da maconha no Brasil, pregada pelos ilustres. Não alterará em nada a sua situação, exceto talvez para melhor.

Primeiro, porque ele continuará a vender seu produto, anunciado como "da lata" ou de alguma região premiada, para contrastar com a erva careta, à venda, quem sabe, na padaria. Segundo, porque ele continuará com seu catálogo –loló, cocaína, crack, ecstasy, ácido e, em breve, heroína— para oferecer aos garotos.

Barroso e FHC deveriam comparecer, nem que atrás de grandes bigodes, a uma festa rave no Rio ou em São Paulo. Descobririam que, na prática, não há mais o que legalizar. Liberou geral.


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