Folha de S. Paulo


O interesse geral

RIO DE JANEIRO - Barcelona, xodó de 9 entre 10 prefeitos que se preocupam com suas cidades, acaba de proibir a construção de novos hotéis em sua área turística. Mesmo nas zonas menos solicitadas, mas já razoavelmente servidas de hospedagem, só se poderá abrir um novo hotel caso outro feche, e com o mesmo número de leitos. E, para evitar que residências particulares se transformem em hostels, vão intensificar a fiscalização. Por que tudo isto? Para garantir o respeito ao "interesse geral".

Esse "interesse geral", em contraposição a um laissez-faire sem limites, é observado em muitas cidades da Europa e que ninguém se atreva a resmungar em nome do direito de propriedade. O coletivo fala mais alto. Em Paris, onde até o número de padarias por quarteirão é regulado —e há cidade no mundo que cultue mais o pão e a liberdade?—, não há hipótese de um mesmo bairro comportar um número exagerado de, por exemplo, farmácias.

No Leblon, aqui no Rio, somente a avenida Ataulfo de Paiva, sua principal artéria, tem cerca de 20 farmácias em pouco mais de 1 km de extensão. Em média, uma a cada 50 metros —como se o bairro com um dos maiores PIBs e o metro quadrado mais caro do país fosse um reduto de enfermos e estropiados. Além disso, as farmácias têm a desagradável característica de, uma vez abertas, sobreviver a seus clientes —nunca se vê uma fechar as portas. Em contrapartida, nove livrarias abriram e fecharam no Leblon nos últimos 15 anos.

Não se fala na criação de novos teatros, bibliotecas ou instituições culturais, em que as pessoas possam se reunir para falar, ouvir, aprender e discutir. Já as farmácias se reproduzem como amebas, ao lado de restaurantes, academias de ginástica e bancos que também não param de abrir.

É o que nos resta: morrer bem alimentados, sarados e com as contas em dia.


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