Folha de S. Paulo


E foi em frente

RIO DE JANEIRO - Outro dia, vi pela TV a rainha Elizabeth 2ª, da Inglaterra, saindo de um carro e caminhando com firmeza para uma cerimônia em Londres. Atrás dela, seu marido, o príncipe Philip –ele, um pouco lento, o que é normal para um homem de 95 anos. Mas Elizabeth, apenas cinco anos mais nova, seguia impávida pelo gramado, indiferente a tufos traiçoeiros. Sobreviverá a muitos ali cuja mão deve ter apertado.

Assim como sobreviveu a todos os poderosos vigentes quando assumiu o trono, em 1952, aos que os sucederam, aos que sucederam a estes e aos que vieram ainda depois. Exemplos?

Elizabeth deixou para trás Churchill, Stálin, Franco, Salazar, Mao, Chiang Kai-shek, Ho Chi Minh, Ben-Gurion, Nasser, Golda Meir, Indira Gandhi, Perón e o nosso Getúlio. Sem falar em Fidel, Pinochet, Idi Amin Dada, Gaddafi, Kim Jong-il, Margaret Thatcher e o aiatolá Khomeini.

Presidentes americanos, enterrou Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford e Reagan. Papas, Pio 12, João 23, Paulo 6º, João Paulo 1º e João Paulo 2º. Reis, Faruk, o Aga Khan, o xá da Pérsia, o rei Zulu e, se não se cuidarem, os quatro do baralho.

A cada morte entre seus pares, ela tem de dar baixa em seus caderninhos, para prevenir uma gafe, e o que morre de gente nas casas reais da Espanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Suécia e Noruega é uma grandeza. Entre os milionários, então, nem se fala –nos últimos 65 anos, uma legião de Rothschilds, Whitneys e Vanderbilts pediu o boné.

E a morte de pessoas que admirava e talvez até conhecesse sempre a deixou passada –Einstein, Chaplin, Garbo, Dietrich, Bertrand Russell, Coco Chanel, Noël Coward, Hanna Arendt, Marilyn, Martin Luther King, Louis Armstrong, Madre Teresa, Onassis, Sinatra, John Lennon, Mandela, Muhammad Ali. Mas é a vida. Um a um, ela deu um suspiro e foi em frente.


Endereço da página: