Folha de S. Paulo


Charlatão honesto

Andrew Kelly - 30.abr.2016/Reuters
Performance de elefantes no Ringling Bros and Barnum & Bailey Circus em abril de 2016

RIO DE JANEIRO - Depois de 146 anos de estrada, o circo americano Ringling Bros. e Barnum & Bailey vai acabar. Um dos motivos é a proibição de usar elefantes no espetáculo, finalmente imposta pelas sociedades protetoras. Se um circo não consegue sobreviver sem a escravização e tortura de animais, merece fechar. Outros, baseados na destreza, coragem e resistência humanas, continuarão. Ao Ringling, resta o consolo de que P. T. Barnum, seu inspirador, nunca será esquecido.

Phineas Taylor Barnum (1810-1891) foi um megaoperador. Fundou ou controlou cidades, museus, faculdades, jornais, hospitais, cemitérios e até seitas religiosas. Fez tudo isso em nome de uma "filantropia lucrativa", que alguns viam como a súmula do americanismo e outros, como charlatanice, mesmo. Seu circo, em sociedade com James Bailey, surgiu de um show de anões, gigantes, albinos, siameses, mágicos, malabaristas e do elefante Jumbo, que apresentou para reis e rainhas e sobreviveu à sua morte, sendo comprado por John Ringling em 1907.

Mas Barnum ficará mais pelo que disse e escreveu sobre propaganda. Exemplos: "A publicidade está para o produto como o estrume para a terra"; "Sem promoção, uma coisa terrível acontece —nada"; "A má propaganda não existe"; "Nada atrai mais uma multidão do que uma multidão"; "Não ligo para o que escrevem sobre mim, desde que escrevam certo meu nome"; "Se der um tiro no sol, posso acertar uma estrela"; "Meu mote: uma bunda em cada cadeira". E a mais famosa: "Nasce um otário por minuto".

Barnum não vacilava ao vender um produto, mas este tinha de fazer jus ao que ele vendia. Só venderia um gato por lebre se o gato fosse sensacional. À sua maneira, era um charlatão honesto.

No Brasil, os charlatões nem são honestos, nem se fazem passar por isto. Não precisam.


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