Folha de S. Paulo


Tornando-se Elis Regina

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Elis Regina ao lado de Dom Salvador e Dom Um, na Bottle’s, no Beco das Garrafas, 1964 foto: divulgação ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Elis Regina ao lado de Dom Salvador e Dom Um, na Bottle’s, no Beco das Garrafas, no Rio, em 1964

RIO DE JANEIRO - Em 1979, em seu samba com João Bosco "O Bêbado e a Equilibrista", Aldir Blanc falou do Brasil que sonhava com "a volta do irmão do Henfil". Referia-se ao sociólogo Herbert de Souza, Betinho, exilado no México, e que, então, quase ninguém conhecia pelo nome. O famoso naqueles tempos, às vésperas da anistia, era o irmão dele, o cartunista Henfil. Dali a meses, Betinho desembarcou em Congonhas e começou sua carreira de homem ligado às grandes causas públicas. Em 1988, morto Henfil, Betinho já era uma unanimidade nacional.

Em 1997, Betinho também morreu. Um repórter me entrevistou sobre ele e, numa resposta, mencionei Henfil. O repórter nem vacilou: "Quem é Henfil?". Incrivelmente, Henfil fora esquecido. Hoje, quase 20 anos depois, imagino que os mais jovens também não saibam quem foi Betinho.

O que explica que, outro dia, ao lhe perguntarem se havia assistido a "Elis – O Filme, sobre Elis Regina, em cartaz, uma menor de 20 anos tenha dito com grande naturalidade: "Elis? Quem é Elis?".

Faz sentido. Elis Regina morreu em 1982, o que a torna, em termos de Brasil, contemporânea de Chiquinha Gonzaga. Daí poder se contar sua história do jeito que se quiser. Neste filme, por exemplo, Elis sai de Porto Alegre em 1964, direto para o Beco das Garrafas, no Rio, e o estrelato em São Paulo.

Na vida real, ela tentou o Rio, pela primeira vez, muito antes, em 1961, aos 16 anos, e levou os três anos seguintes tentando. Sonhava ser Angela Maria, mas as gravadoras queriam transformá-la em Celly Campello.

Morou no notório edifício 200 da rua Barata Ribeiro, gravou chá-chá-chás, submeteu-se aos mais inglórios programas de auditório e competiu com as colegas Wanderléa, Rosemary e Meire Pavão por uma foto na "Revista do Rádio".

Sofreu muito. Sem o que não teria se tornado Elis Regina


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