Folha de S. Paulo


Uma eternidade depois

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O jornalista e governador do Rio de Janeiro em 1964, Carlos Lacerda
O jornalista e governador do Rio de Janeiro em 1964, Carlos Lacerda

Um dos livros mais esperados de sempre está prestes a se tornar realidade: o álbum de desenhos e caricaturas de um cidadão italiano chamado Lanfranco Vaselli, que todos os cariocas -não fosse ele o mais carioca de todos - conhecem pelo seu verdadeiro nome: Lan. Sim, porque, a essa altura, aos 91 anos, Lanfranco Vaselli é que se tornou um pseudônimo. O nome que o Rio reconhece é aquele que, há sete décadas, assina na imprensa os desenhos que contam a saga de seus botequins, calçadas, arquibancadas, gafieiras e escolas de samba e dos personagens que lhes dão vida

Lan tem passado a vida desenhando a mulher brasileira - não fosse ele casado com Olivia, uma das lendárias irmãs Marinho dos palcos cariocas nos anos 50 e 60 e inspiradora de suas mulatas com dois metros de pernas. Mas não adianta. Apesar de sua multidão de mulatas, ele será sempre associado a uma certa caricatura: a que retratou o líder político Carlos Lacerda como um corvo.

A história é conhecida, ou quase. Em 1954, Samuel Wainer, da "Última Hora", irritou-se ao ver seu arqui-inimigo Lacerda de luto fechado no enterro de um repórter que fora espancado e morto pela polícia de Getulio Vargas. Daí pediu a Lan que desenhasse Lacerda como um urubu. Novato no Brasil, Lan não tinha intimidade com urubus e, por isso, desenhou um corvo. O resultado, na primeira página do vespertino, horas depois, valeu a Lacerda a alcunha imortal: "O Corvo".

E, agora, a surpresa. Organizado por seu amigo Paulo Brocá e contendo uma longa entrevista de Lan à repórter Christina Autran, o livro sairá, em 2017, pela editora Bem-Te-Vi, de Sebastião Lacerda e Vivi Nabuco. O querido Sebastião é, naturalmente, filho de Carlos Lacerda.

Uma eternidade depois, será, de certa forma, o glorioso encontro do caricaturado com seu caricaturista.


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