Folha de S. Paulo


O país do puxadinho

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 13-09-2016, 11h00: O presidente Michel Temer durante a primeira reunião do PPI (Programa de Parceria em Investimentos), no Palácio do Planalto. Participam os ministros Henrique Meirelles (fazenda), Dyogo Oliveira (Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil), Sarney Filho (Meio ambiente), o secretário do PPI Moreira Franco e a presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER)
O presidente Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), ambos citados em delação

RIO DE JANEIRO - Entreouvido num quiosque de Ipanema. O vendedor de coco conta que sua mãe morreu e os herdeiros brigam pelo espólio — uma casa perto do Engenhão, com puxadinhos. Cada herdeiro se diz dono de um puxadinho, o qual quer passar nos cobres. Tudo sem registro, escritura ou documento. Há milhões de propriedades como essa no país. O Brasil é o país do puxadinho. E não só no quesito moradia.

A decisão do Supremo de permitir a Renan Calheiros continuar na presidência do Senado, mas sem direito a substituir o presidente da República, foi um puxadinho à lei. A decisão do Senado de impichar Dilma Rousseff, mas permitir que ela conservasse os direitos políticos, foi outro puxadinho. E — mais claro do que nunca — o próprio governo de Michel Temer é um puxadinho dos governos de Lula e Dilma.

Apenas entre os citados pelo delator Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como campeões da extorsão e da propina, há vários ministros do atual governo que já serviram — e se serviram — dos dois lados. Eliseu Padilha, por exemplo, chefe da Casa Civil de Temer, foi ministro da Secretaria de Aviação Civil de Dilma (2014-15). Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento de Temer (2016) e uma das potências da República, foi ministro da Previdência Social de Lula (2005).

Wellington Moreira Franco, secretário de um certo Programa de Parcerias e Investimentos criado por Temer, foi chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos de Dilma (2011-13) e da de Aviação Civil, também de Dilma (2013-14). Geddel Vieira Lima, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Temer, foi ministro da Integração Nacional de Lula (2007-2010).

Mas o maior puxadinho é, claro, o próprio Temer, ex-vice de Dilma durante cinco anos (2011-16) e, em duas eleições, seu colega numa chapa que — literalmente — já foi posta para esquentar.


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