Folha de S. Paulo


Pela primeira vez

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ORG XMIT: 083001_0.tif Música: o músico Donga, que em 1917 registrou como seu o samba
O músico Donga, que registrou como seu o samba "Pelo Telefone"

RIO DE JANEIRO - Jornais e revistas abriram páginas no último domingo (27) para celebrar os 100 anos do samba, representados pela suposta data de registro do pioneiro "Pelo Telefone", de Donga, na Biblioteca Nacional. Como não sobreviveram dados sobre o dia de sua gravação na fábrica Odeon pelo cantor Baiano (só se sabe que foi em meados de dezembro), fica valendo a data na partitura levada por Donga à biblioteca, 27 de novembro de 1916. Mas o que representa esta data?

O documento original que se conhece é uma partitura manuscrita para piano, dizendo "'Pelo Thelephone', samba carnavalesco por Ernesto dos Santos. Rio, 1º de novembro de 1916. Dedicado aos carnavalescos Perú e Morcego". No alto da página, um pequeno carimbo da Biblioteca Nacional contendo a numeração 3.295 e, sempre à mão, "Reg. 27-11-916". Deduz-se que Donga — ou alguém por ele, já que Donga não escrevia música — compôs a partitura no dia 1º e esta foi levada à biblioteca no dia 27.

Nada contra a que seja este o dia oficial do centenário. Mas a data publicada nas primeiras cópias impressas — e, imagino, em todas outras a partir daí — é a de 16 de dezembro de 1916. Pode ser a que a Biblioteca Nacional considere como a do registro definitivo. Nesse caso, esta é que seria a verdadeira data do centenário, não?

Claro que nada disto faz diferença. Outra data possível seria até anterior: a de 25 de outubro, quando, segundo o próprio Donga, "Pelo Telefone" – ou o "Pelo Telefone" que ele arredondou com a letra do jornalista Mauro de Almeida, o "Perú" da dedicatória – foi tocado em público pela primeira vez, no Cine-Teatro Velho, na rua Haddock Lobo, na Tijuca.

Mas, para mim, haveria uma data melhor ainda. Aquela em que o povo saiu pelas ruas do Rio, cantando "Pelo Telefone" pela primeira vez, no Carnaval de 1917.


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