Folha de S. Paulo


Parentes terríveis

Divulgação
A cantora Carmen Miranda em cena do do filme documentário
A cantora Carmen Miranda em cena do documentário "Carmen Miranda - Banana is my Business"

RIO DE JANEIRO - Há dois meses, esta coluna especulou sobre a possível morte do arranjador e maestro alemão Claus Ogerman, famoso por seu trabalho com Tom Jobim. Morte esta cuja notícia fez com que seus fãs em três ou quatro continentes se correspondessem em busca de confirmação. Tudo indicava que era verdade –ou o próprio Ogerman a desmentiria–, mas por que nenhuma fonte autorizada vinha esclarecer?

Pois agora é oficial: Claus Ogerman morreu no dia 8 de março último, em Munique, na Alemanha. A informação, sumária, foi admitida por sua família, a qual parece resumir-se a uma sobrinha de que não se conhece o nome. Mas o mistério continua: a causa da morte não foi revelada. E por que se demorou tanto para anunciar um fato que, por mais triste, não seria uma surpresa? Ogerman tinha 85 anos.

Tudo parece concentrar-se nesta sobrinha. Para alguns, ela não queria que se soubesse da morte do tio. Para outros, achava que a informação não interessaria a ninguém. Seja como for, é insólito que se dependa de uma parenta neurótica para se saber se está vivo ou não um homem cujos talentos estiveram a serviço de jazzistas como Johnny Hodges, Oscar Peterson, Bill Evans, Stan Getz e Wes Montgomery e cantores como Mel Tormé, Sammy Davis Jr., Barbra Streisand, João Gilberto e Frank Sinatra. E Jobim.

Em 2004, estive em Várzea de Ovelha, terra de Carmen Miranda, no norte de Portugal, e conversei com uma senhora de seus 70 e tal anos, prima em segundo grau de Carmen. Ela me falou das aventuras da menina Carmen na região antes de vir para o Brasil –de como era sapeca, gostava de cantar e dançar e namorava os miúdos da cidade. Tomei nota de tudo e agradeci. Não lhe contei que Carmen saiu dali em 1909 –aos sete meses de idade– e nunca mais voltou.

Alguns parentes falam demais. Outros, de menos.


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