Folha de S. Paulo


Nica e Monk

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O pianista e compositor norte-americano Thelonious Monk

RIO DE JANEIRO - O que leva uma mulher, nascida na Europa e de família bilionária —Rothschild—, a deixar o marido, um nobre francês e herói de guerra, e cinco filhos pequenos, para se entregar a um homem pobre, negro, casado, drogado e com distúrbios mentais, numa sociedade e época (os EUA dos anos 50) que nunca aceitariam essa relação? Bem, se o homem for o compositor e pianista Thelonious Monk, fica mais fácil entender. Mas ela só poderia ser a baronesa Pannonica de Koenigswarter (1913-88). Para o mundo do jazz, Nica.

Um livro recém-lançado, "A Baronesa do Jazz" (Objetiva, 264 págs.), de Hanna Rothschild, sobrinha-neta de Nica, conta a história dessa mulher que, em 1954, aos 40 anos, foi para Nova York, ligou-se aos jazzistas que admirava (e eram muitos), promoveu-os, pagou suas internações, livrou-os de prisões e responsabilizou-se por seus enterros. Mas o que Nica fez por tantos empalidece diante de sua dedicação ao homem Thelonious Monk e sua música.

Durou 18 anos, até a morte de Monk, em 1982. Não se pode garantir que um dia tenham feito sexo, nem importa. A deles foi a maior história de amor do jazz —e Nellie, mulher de Monk, era grata a Nica por isto.

Exemplo: em 1958, Nica estava levando Monk e o saxofonista Charlie Rouse para um show em Baltimore. Foram parados na estrada —eram uma mulher branca e dois negros num carro de luxo, um Bentley. Os policiais os mandaram descer. Monk, no banco do carona, pareceu não entender a ordem. Eles o atacaram com seus cassetetes. Monk sentou-se em cima das mãos para protegê-las. Nica se punha entre eles e implorava que não batessem nelas— eram as mãos mais preciosas do mundo.

Nica declarou ser dela a maconha encontrada no carro. Para salvar Monk, deixou-se prender, cumpriu pena e quase foi deportada. Ele nunca soube o que ela sofreu.


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