RIO DE JANEIRO - Gay Talese é um escritor americano que ficou famoso nos anos 60 porque, ao não conseguir entrevistar Frank Sinatra, armou-se de depoimentos de amigos de Frank e compôs um perfil tido como formidável do cantor. Para muitos, esta é uma façanha do jornalismo moderno. Já os espíritos de porco, como eu, não veem nenhuma façanha nisso, mas uma prática comum na imprensa há 150 anos.
Talese é maníaco por roupas. Em sua casa, em Nova York, ele tem mais ternos, camisas, gravatas, chapéus, coletes, abotoaduras, barbatanas de colarinho, meias, sapatos e polainas do que livros — ninguém jamais o viu de bermuda ou de mangas curtas. Na Flip, em Paraty, há anos, quase enlouqueceu o pessoal da pousada onde se hospedou porque ela não tinha armários e cabides para as dezenas de ternos que ele levara para passar dois dias. Só faltou exigir que asfaltassem as ruas de pedras, para não magoar seus sapatos italianos.
Sempre me perguntei se alguém tão fanaticamente vestido e calçado seria capaz de se entregar aos suarentos swings, ménages à trois e orgias que ele diz ter praticado para escrever seu famoso livro "A Mulher do Próximo", de 1981, sobre a revolução sexual dos anos 70. Só se o fez de pijama e pantufas — e imaginou o resto. O que é grave, já que Talese se diz um autor de não ficção.
Corta para 2016. Há pouco, anunciou-se com pompa seu novo livro, "O Motel do Voyeur", sobre um dono de hotel que levou décadas espiando a vida sexual dos hóspedes através de um teto falso. Mas o "Washington Post" acaba de descobrir que o tal homem – única fonte do livro e a quem foram prometidos royalties — inventou quase tudo que contou para Talese. Este, vexado, disse que irá desautorizar o livro.
Então é assim? Gay Talese não apenas paga suas fontes como se deixa tapear por elas? Pfffttt...