Folha de S. Paulo


Incrível, o VHS ainda existia, mas, agora, morreu de vez

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Os atores Norma Bengell e Jece Valadão em cena do filme
Os atores Norma Bengell e Jece Valadão em cena do filme "Os Cafajestes" (1962), de Ruy Guerra

Fechou na semana passada a última fábrica de videocassetes no mundo, a japonesa Funai Eletric. A notícia me surpreendeu –quer dizer que ainda os fabricavam? Podia jurar que sua produção já tinha sido "descontinuada" há 20 anos –desde a implantação do DVD, que o varreu do mercado e o condenou a, por breve tempo, sobreviver apenas nas locadoras de subúrbio e nas barracas dos camelôs mais pobres. Eu próprio deixara de comprá-los havia séculos.

Na verdade, antes mesmo de surgir o DVD, eu já trocara o VHS por outra mídia mais moderna: os disc-lasers, aquelas chapas de 12 polegadas, precursoras digitais do DVD, e cujas faces prateadas pareciam ter melhor resolução visual e sonora - e tinham mesmo. Aliás, os lasers eram superiores ao VHS em tudo: ocupavam menos espaço nas estantes, não mofavam e traziam capas lindas e contracapas ricas em informação. Mas eram caros demais e nunca ameaçaram o VHS. Veio o DVD e acabou com ambos.

Acabou, mas ninguém tira do VHS a glória de ter sido o primeiro formato a trazer de fato o cinema para dentro de casa. Desde sua chegada, em 1983, ele realizou o sonho secreto de todos nós, cinéfilos: o de ter à mão nossos filmes mais queridos, para assistir a eles quando quiséssemos.

O mercado o adotou com sofreguidão e a indústria foi generosa. Durante anos, tudo de importante ou desimportante em cinema saiu em VHS. Entre filmes velhos e novos, milhares de títulos circularam pelo mundo.

Bem, tudo isso, agora, é história. Ou não -pelo menos para mim. Conservo até hoje meu aparelho, um sólido Pioneer, e às vezes o uso, feliz da vida, para assistir a filmes brasileiros de que gosto e nunca encontrei em DVD: "Os Cafajestes", "A Dama do Lotação", "Navalha na Carne", "O Escorpião Escarlate", "Perdoa-me por me Traíres".


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